Uso de drogas e violência não têm relação direta, indica pesquisa
Pesquisa “Prisioneiros das Drogas” entrevista presos do Rio e analisa impactos da droga na vida e no crime deles
Cerca de 80% dos presos em carceragens do Rio são usuários de
drogas, como maconha, cocaína, crack e heroína. Porém dados preliminares
da pesquisa “Prisioneiros das Drogas” apontam que, na maioria dos
casos, os presos não cometeram crimes violentos.
Estabelecer a relação entre o uso de drogas por presos e a violência é
o objetivo principal da pesquisa “Prisioneiros das Drogas”, que há três
meses entrevista detentos do Rio de Janeiro. O projeto é uma iniciativa
das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), com apoio da Faperj
(Fundação de Amparo à Pesquisa) e da Polícia Civil do Rio e a previsão
de dois anos de duração.
“Existe a ideia de que a droga está ligada à violência e a crimes
violentos, mas vemos que a maioria dos encarcerados está lá por crimes
sem violência. Normalmente, o crime é uma questão política, havendo ou
não condenação dependendo de onde a pessoa estava, de como estava
vestida, onde mora, entre outras coisas”, disse Ana Beatriz Leal.
Para o delegado Orlando Zaccone, chefe das carceragens da Polícia
Civil do Rio, “o que diferencia o traficante do bem do traficante do mal
é onde ele nasce”, disse Zaccone, no seminário “Prisioneiro das
Drogas”, no auditório da Emerj (Escola de Magistratura do Estado do Rio
de Janeiro), no Tribunal de Justiça do Rio, no centro da cidade.
“É frequente e surpreendente ver que a destruição do indivíduo –
fisicamente e psicologicamente, por estar preso – não teve repercussão
na sociedade. O preso também é altamente vitimizado, pela droga e o
estigma que ela traz, além do estigma de ser preso”, afirmou Oswaldo
Munteal, coordenador-geral da pesquisa, que encontrou dois ex-alunos
presos, durante a pesquisa.
De acordo com a coordenadora-executiva do projeto, Ana Beatriz Leal,
outra importante meta do projeto é “criar ciência para o Estado agir,
com políticas públicas” para a área e tornar visível à sociedade a
questão da droga.
“Um dos fatos que favorecem a continuação do uso de droga é o
estigma. Deve haver uma preocupação com a superação dos estigmas de
usuário”, disse Maria Tereza Aquino, do Nepad (Núcleo de Estudos e
Atenção ao Usuário de Drogas), da Uerj.
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