sábado, 11 de dezembro de 2010

Uma contribuição individual de ajuda aos recuperandos


Um ex-usuário de químicos para reintegrar-se socialmente não parece ser uma tarefa fácil. Primeiro existe aquela questão do preconceito, do estigma, do carimbo que a sociedade impõe às pessoas, que por inúmeros fatores e razões, se desviam da margem da boa convivência social exigida. 

Ressocializar um ex-dependente é tarefa para pessoas que possuem elevado grau de conhecimento, portanto, pessoas sem preconceitos e que sabem compreender que pessoas precisam de pessoas, que no ex-usuário, o instinto gregário permanece vivo e, portanto, precisa ser trabalhado de modo a não permitir que este instinto o conduza de volta àquelas amizades que podem leva-lo a uma regressão.

Pessoas precisam de pessoas e no caso de um ex-usuário, estas pessoas devem constituir pra ele um núcleo de convivência agrádavel, salutar, com boas doses de prosas. O ex-usuário não precisa que fiquem lembrando o passado dele, fazendo perguntas, tocando na temática das drogas, sem o devido tato. Ex-dependentes em recuperação não precisam do olhar piedoso de ninguém, mas da reintegração, da re-inserção social e do acolhimento compreensivo das consciências e inteligências superiores.

O recuperando, antes, possuía amigos que não faziam uso de químicos. Todos sumiram. Ninguém espere que um ex-dependente vá procurar estes amigos que dele se afastaram. Se eram realmente amigos, naturalmente deveriam reaproximar-se, apoia-lo, retirar-lhe o sentimento de isolamento e solidão, contribuindo pra esgotar as possibilidades do recuperando voltar aos velhos hábitos, lugares e costumes. Ocupar-lhe o tempo e a mente em conversas agradáveis, que ele goste, talvez seja um ótimo recurso, dentre muitos.

O carinho da família é indispensável. O meio social próximo e distante, deve recepcioná-lo sem exageros, mas de modo saudável e alegre, denotando que a amizade, o amor, o carinho e o respeito ainda são o mesmo de outrora.

É dificil, entretanto, que este processo aconteça. Que os amigos que o abandonaram passem a procura-lo. Também é complicado esperar que um recuperando vá de encontro aos bons companheiros. De modo geral, o recuperando vai buscar ajuda em grupos, como AA e NA. Nestes locais ele vai se sentir à vontade, vai se sentir mais como ser humano. 

No processo de reintegração, face aos rótulos que lhe davam, a piedade que dele tinham, incomoda e cria um ambiente desconfortável um ex-dependente químico. Por isso eles buscam o AA e o NA, lá encontrarão o que o meio social, como um todo, não lhe confere. Não estamos aqui entrando na complexidade das diferenças de classes sociais, entendendo que cada qual possui a sua própria casta, mas no NA e AA, inexiste isso e todos são iguais.

No processo de recuperação ainda existe o problema da vigilância do co-dependente, da desconfiança, do pessimismo dos familiares, que também não enxergam o adicto como um ser humano igual a outro e a relação que se estabelece, de modo geral, é doentia. Um recuperando merece o nosso respeito a atenção, mesmo que em sua trajetória tenha os seus tropeços.Sem ajuda e sem compreensão nada muda.

Todos nós somos regidos pelo princípio do prazer e convivências desarmoniosas, conversas enfadonhas, proposições desagradáveis, não ajuda em nada. O meio em que o recuperando se encontra deve ser um meio que lhe traga o prazer de viver com sobriedade.

Deve imperar a substituição do mundo das trevas, pelo mundo das luzes, da alegria e do prazer. Boas companhias, boas amizades e novos amigos devem ajudar bastante quem se acha em recuperação. A bolha do isolamento e da solidão de um recuperando precisa ser rompida e, inteligentemente pensada, compreendida e elaborada uma estratégia de rompimento produzido por este estado. O trabalho de recuperação não deve ficar restrito apenas a um tratamento, fruto de uma internação, nem apenas como sendo uma tarefa, exclusiva, dos NA e AA. Tudo deve interagir. 

Passear, viajar, receber estimulos positivos, praticar esportes, respirar ar puro, caminhar, contar e ouvir piadas, ouvir música, ter um hobby, voltar a frequentar ambientes que outrora frequentava, conversar, ver gente, ir a museus, cinema, teatro, um restaurante... Vez em quando um familiar pode convida-lo a dar um passeio saudável, em ambiente descontraído pela cidade.

Existem inúmeros aspectos que podem ajudar um ex-dependente a viver cada vez melhor que antes, a se sentir útil e igual, sem o peso dos estigmas, mas, um ex-dependente vai precisar, sobretudo, da sua humanidade, da sua mão amiga, da sua ajuda, do seu apoio, do seu estimulo.

Infelizmente, a humanidade ainda é muito desumana e encontrar pessoas que tenham a mente aberta e que saiam do senso comum ainda é dificil e o dependente será um alguém que vive em um eterno monologo com a multidão. 

Pessoas precisam de pessoas. Sozinho ninguém pode nada. 

Resta ao ex-usuário o seu poder superior. O que um ex-usuário talvez mais precise, no entanto é de um miraculoso e divino "fiat lux". Esperar muito da humanidade alheia é esperar que toda uma cultura do atraso modifique-se muito rapidamente. Mas não nos falta a existência do que podemos denominar como inteligências superiores. Desse mato pode sair coelho.

Um comentário :

  1. Ótimo artigo para reflexão e aprimoramento. O processo de reintegração social é bastante complexo e, com interatividade, apoio, carinho e amor tudo fica mais fácil. O abandono, seja de amigos, de familiares, conhecidos, acrescidos dos estigmas só prejudicam. Foram muito adequadas as colocações no sentido de melhor compreendermos e ajudarmos alguém em sua recuperação.

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soporhoje10@gmail.com

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