quarta-feira, 16 de julho de 2014

Overdose: quando o organismo não é capaz de se livrar dos exageros



"Há venenos em todas as coisas. Não existe nada sem veneno. Todas as substâncias são tóxicas. A dose correta é que diferencia um veneno de um remédio." Esta frase é de Paracelso, filósofo, médico, alquimista, que viveu por volta de 1.500 e é considerado o pai da Toxicologia Moderna.


O organismo tem um limite em sua capacidade de metabolizar a substância ingerida e, quando esta é consumida em quantidade e velocidade maior do que a possibilidade de metabolização, acontecem as overdoses.

A overdose se dá quando o indivíduo consome determinado tipo de substância num volume maior do que o organismo pode suportar, e isso pode ter consequências graves e até levar à morte.
O que ocorre com um organismo em overdose?

O fígado é o órgão responsável por metabolizar (eliminar) as substâncias químicas ingeridas pelo corpo e converter essas substâncias em novos compostos, mais simples e menos tóxicos ao nosso organismo. Entretanto, quando ocorre o alto consumo dessas substâncias químicas, como drogas e álcool, o fígado não consegue eliminar esses compostos na mesma velocidade em que são ingeridos, causando intoxicação do organismo. Quando a intoxicação é severa, como nos casos de overdose, pode ocorrer depressão do sistema nervoso central e parada cardiorrespiratória, ou seja, o coração e os pulmões param de funcionar, levando o indivíduo à morte.

De acordo com o psiquiatra do Einstein, Dr. Sérgio Nicastri, existem dois tipos de overdose, a intencional – na maioria das vezes promovida pelo abuso de drogas –, é quando a pessoa sabe que o consumo excessivo de determinada substância irá fazer mal, mas continua a ingerir a droga e/ou a bebida alcoólica. E a não-intencional que, na maioria das vezes, se dá em função da dosagem indevida de algum medicamento. A maior parte dos casos de intoxicação por medicamentos acontece pela automedicação.
O que faz um indivíduo entrar num estado de overdose?

"São vários os comportamentos entre as pessoas que são viciadas em substâncias psicotrópicas – aquelas que atuam diretamente sobre o cérebro – e que podem ter uma overdose. Existem as pessoas que consomem cada vez mais pela busca do prazer, as que consomem drogas "não confiáveis" e as que abusam de remédios, sejam eles manipulados ou não", explica o psiquiatra.

Algumas substâncias podem provocar intoxicações acidentais e também levar à morte, mesmo a pessoa não tendo consumido doses muito elevadas. É o caso de barbitúricos, codeína, morfina e inalantes.

Não há uma quantidade "segura" para o consumo deste tipo de substância, pois cada indivíduo possui níveis de tolerância diferentes. Mas algumas drogas têm maior potencial para provocar overdose, como a heroína, o crack e a cocaína, que possuem alto risco, pois provocam grandes alterações no sistema nervoso central, podendo levar à morte de forma muito rápida, por depressão respiratória (heroína) ou ataque cardíaco (cocaína e crack).

Pessoas que são viciadas em álcool – embora, se comparado com cocaína ou heroína, este apresente menor possibilidade de provocar overdose –, quando o consomem em doses elevadas podem sofrer coma alcoólico e morrer se não forem tratadas a tempo. Este risco aumenta muito quando o consumo de bebida alcoólica é associado a outras drogas, principalmente tranquilizantes.

A maconha oferece menor risco de overdose. Contudo, seu consumo excessivo pode provocar constantes distorções da percepção. Já o tabaco tem risco praticamente zero, considerando sua forma de absorção (fumado), mas a ingestão oral de um maço de cigarros poderia ser fatal.
Efeitos da overdose

Os efeitos variam de indivíduo para indivíduo e dependem muito do tipo de substância ingerida, da quantidade e da forma de uso (oral, venosa, subcutânea). Podem ser agudos ou crônicos e incluem tanto os riscos associados à droga propriamente dita quanto à via de administração utilizada pelo usuário. Alguns exemplos dos sintomas de uma overdose são agitação, sudorese, delírios, taquicardia hipertensão arterial, arritmia cardíaca, febre extrema, convulsões, dor no peito e infarto do miocárdio.
Quanto mais jovem, mais abuso

É claro que nunca podemos generalizar, mas é sabido pelo inconsciente coletivo que a adolescência é o período das experimentações, dos testes de limites. "Os jovens abusam de tudo, para eles não existe meio termo. E, na maioria das vezes, começam a usar alguma substância, influenciados pelo grupo de amigos, por precisarem ser aceitos dentro do grupo, afirma o Dr. Sergio Nicastri.

Robert T. Brown, pediatra e membro da Academia Americana de Pediatria, em um artigo publicado na Pediatric Clinics of North America, diz que o consumo de drogas se inicia principalmente na adolescência. Sendo o álcool a substância mais consumida pelos jovens, seguido de tabaco, maconha e estimulantes. Estes últimos ganharam destaque nos anos oitenta, com o ressurgimento do consumo da cocaína e o aparecimento do crack, bem como na última década, com a popularização do ecstasy.

"O adolescente não possui ainda a habilidade para prever os riscos de um comportamento habitual. Tal aptidão começa a se manifestar por volta dos doze anos e se torna mais presente a partir dos quinze. Desse modo, adolescentes mais assertivos e agressivos (assim como os mais impulsivos) se envolvem em comportamentos de risco com mais facilidade. Tais comportamentos podem tanto advir, quanto causar trauma e estresse", explica Dr. Robert Brown.
Do uso esporádico à dependência química

O uso de substâncias psicotrópicas por muito tempo e de forma regular faz com que o individuo comece a perder o controle sobre o seu consumo. Ele perde a condição de escolher e se torna dependente da droga.

Alguns sinais indicam a dependência química, como compulsão ou perda do controle, tolerância do organismo e a necessidade de doses cada vez maiores da substância para se obter os mesmos efeitos de antes; sintomas de abstinência; valorização da droga em detrimento do dinheiro e da vida social, entre outros.

O uso da droga passa a ser uma necessidade e não mais um ato que está ligado a uma ocasião social. O viciado em álcool, por exemplo, passa a beber não mais para relaxar, para curtir uma ocasião especial com os amigos, ele passa a beber para aliviar os sintomas da abstinência.

O viciado tem controle apenas sobre o primeiro ato. "Por exemplo, o viciado em álcool só sabe que ele não pode ingerir o primeiro gole, porém, se isso acontece, ele já não terá mais a capacidade de controlar", explica o psiquiatra do Einstein.

Como tratar um paciente em overdose?

Em casos de overdose, um bom tratamento de suporte continua sendo a melhor conduta. "O médico do atendimento de emergência deverá obter a maior quantidade possível de detalhes da história de vida do paciente, mantendo as vias aéreas, respiratórias e circulatórias monitoradas e funcionando. Passado este primeiro momento de urgência, é preciso que o paciente seja tratado por uma combinação de terapias farmacológicas, terapias psicodinâmicas e/ou cognitivo-comportamentais", finaliza o Dr. Sérgio Nicastri.


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