sábado, 3 de novembro de 2012

Drogas...Danos ao Organismo - Cocaína e Crack

Uso, abuso e dependência de cocaína

Uso de cocaína inalada (cheirada)-http://mais24hrs.blogspot.com.br/
Consequencias do uso de cocaína-http://mais24hrs.blogspot.com.br/
Rompimento do palato pelo uso de cocaína

Uso de cocaína injetável-http://mais24hrs.blogspot.com.br/Nem todos os usuários de cocaína tornam-se dependentes da droga. Da mesma forma, nenhum dependente de cocaína, ao iniciar o consumo, tinha a intenção de se tornar dependente da substância. No entanto, não existe um limite nítido entre o início do consumo, o uso continuado e o desenvolvimento dos transtornos decorrentes do uso da droga (principalmente Abuso e Síndrome de Dependência). A experimentação da cocaína se desenvolve sempre em um meio (contexto) social definido, promovendo efeitos estimulantes e euforia pronunciada. Nenhuma das conseqüências negativas do consumo está presente (nos primeiros meses de consumo ocasional), parecendo ao usuário iniciante que os avisos e informações que tinha sobre a droga antes da primeira experiência, eram exagerados ou simples "propaganda enganosa". Em busca dos efeitos inicias, o consumo da cocaína continua; o sujeito passa a visitar outros usuários com mais freqüência, dando-se a desculpa que "estes são verdadeiros amigos" por compartilharem sensações e prazeres semelhantes, diferentes dos amigos "caretas" de antigamente.
Pela primeira vez acontece a compra da cocaína de um destes amigos e o consumo se intensifica. Até este momento poucos efeitos negativos são evidentes. A família nota alguma mudança, mas como o indivíduo mantém (quase) todas as suas atividades anteriores (trabalho, estudo, pernoitar em casa, etc.), a desconfiança muitas vezes não é revelada ao usuário; este se sente ainda mais confiante, também pelas próprias características da droga. Mais um período de consumo e entra em contato com fornecedores de quantidades maiores, traficantes ou "aviões" (outros usuários que mantém seu consumo por meio de comércio de pequenas quantidades da droga). Descobre, então que quando adquire maior quantidade ocorre um barateamento de seu consumo; compra grande quantidade "para usar ao longo do mês"; infalivelmente consumindo em período muito menor. Algumas conseqüências negativas já são evidentes, mas sua importância é muito menor do que o prazer obtido pelo consumo da substância. "Perco de um lado, mas ganho de outro", pensa o usuário, já atrelado ao caminho determinado pela droga. Podem começar a ocorrer episódios de consumo de grandes quantidades durante várias horas ou poucos dias, as orgias de consumo ("binges" em inglês). Neste ponto suas atividades e atribuições anteriores ao consumo já sofrem de negligência importante, contribuindo ainda mais para o retorno ao consumo.A situação tem a gravidade intensificada e o usuário muito se assemelha ao camundongo de laboratório que fornece aos pesquisadores inúmeras informações sobre as drogas de abuso, passando a consumir compulsivamente a despeito das evidências claras de prejuízos sobre sua vida e daqueles que o cercam. Neste ponto qualquer pessoa identifica o dependente de cocaína. O tratamento tem como objetivo interromper o consumo, restaurar suas conseqüências e mudar o estilo de vida do indivíduo, que facilita o retorno ao uso.O fator mais relevante deste pequeno exemplo, de um dos padrões de consumo que evolui para a Síndrome de Dependência, é que o indivíduo não necessita chegar a este estado terminal para ser considerado dependente. Qualquer pessoa (não dependente) concorda que muito antes disto, o indivíduo perdeu a sua capacidade de controlar o consumo de cocaína. A perda deste controle parece ser o fato central do estabelecimento do estado de dependência; a cocaína passa a controlar o indivíduo, e não o contrário, que ocorreu no momento da experimentação inicial.Quanto mais cedo se detecta a dependência maior o sucesso que intervenções terapêuticas podem obter. Com este último conceito como foco tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS), como a Associação Psiquiátrica Norte-americana (APA), estabelecem critérios que direcionam o diagnóstico da Síndrome da Dependência, com o intuito de diagnosticar precocemente este Transtorno com enorme custo social.
Conforme descrito acima, a Dependência é uma Síndrome, cujos sintomas se manifestam em áreas de funcionamento social, psicológica e biológica do indivíduo e estes critérios privilegiam estas áreas de impacto.

Drogas...Danos ao Organismo - Cocaína e Crack http://mais24hrs.blogspot.com.br/Critérios diagnósticos da Síndrome de Dependência
Síndrome de Dependência – diretrizes diagnósticas
 

Um diagnóstico definitivo de dependência deve usualmente ser feito somente se três ou mais dos seguintes requisitos tenham sido experienciados ou exibidos em algum momento durante o ano anterior:
  • Forte desejo ou compulsão para consumir a substância;
  • Dificuldade para controlar o comportamento de consumir a substância, em termos de seu início, término ou níveis de consumo;
  • Estado de Abstinência fisiológico quando o consumo da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por:
  • Sintomas característicos para a abstinência da substância
  • Retorno ao uso da substância (ou similar) para alívio ou evitação destes sintomas
  • Evidência de Tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas. Se o indivíduo mantém a dose estável, outra forma de verificar a presença deste critério é a redução dos efeitos da substância;
  • Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso da substância, aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a substância ou ainda para se recuperar de seus efeitos
  • Persistência no uso da substância, a despeito de evidências claras de conseqüências manifestamente nocivas.

(OMS, 1993)
O Abuso da cocaína é um transtorno com diagnóstico de exclusão, ou seja, só pode ser diagnosticado quando a dependência não se encontra presente. Este diagnóstico, descrito pela APA (Associação Psiquiátrica Norte-americana), focaliza fundamentalmente o consumo problemático e recorrente da cocaína, ou seja, o indivíduo que passa a ter comprometimentos sociais, médicos, psicológicos ou legais e mesmo assim mantém seu uso por período mínimo de um ano (12 meses), mesmo não sendo dependente (por não apresentar os sintomas descritos para a dependência da cocaína, descritos acima). Esta pessoa geralmente tem um menor impacto da droga sobre sua vida (representado por conseqüências geralmente mais brandas do que na dependência), porém caso não seja submetido ao mesmo tratamento que o dependente terá (quase que) infalivelmente o destino da Síndrome de Dependência. Por ter, teoricamente, menores conseqüências negativas, pode-se considerar o Abuso de cocaína como um transtorno que tem a possibilidade de obtenção de melhores resultados terapêuticos do que a Dependência. 

Formas de consumo da cocaína  
Embora o termo "Crack" venha sendo veiculado há pouco mais de 15 anos, a história do consumo dos produtos da cocaína é bastante antiga. Relatos sobre o uso das folhas do Arbusto Erythroxylon, natural da América do Sul, mais especificamente encontrado na região Amazônica, são encontrados em tribos peruanas 2000 anos antes do descobrimento de nosso continente. A folha mascada libera baixas doses de cocaína, substância ativa da planta, que promove todos os seus efeitos. O uso, porém, era controlado, associado exclusivamente aos propósitos religiosos, ocupacionais ou como prerrogativa da mais alta casta deste povo. Esta forma de uso se manteve até a civilização Inca, mesmo quando da chegada dos espanhóis, que logo verificaram suas propriedades de estímulo na exploração do ouro da Terra Nova. Contudo a tentativa de transporte da planta para a Europa, naquela época, destruía a substância ativa contida nas folhas, perdendo todos os seus efeitos estimulantes. Esta razão foi responsável pelo esquecimento da substância nas publicações européias dos séculos seguintes, até que na metade do século passado foi conseguida a extração da substância pura, a cocaína, em forma de pó.
A apresentação aspirada produzia um efeito muito maior do que o observado na mascagem das folhas, tornando-se coqueluche no final do século passado no Velho Continente – a primeira epidemia de consumo da coca. Ao mesmo tempo a medicina inventava um método novíssimo para administração de remédios, a injeção. Assim, as principais formas de consumo na virada do século eram intranasal e intravenosa. Em seguida, porém, a sociedade foi obrigada a se confrontar com um imenso rol de complicações e conseqüências desastrosas do consumo de cocaína e em 1914 a cocaína passava a ser proibida tanto nas Américas como na Europa. A sociedade moderna tomava consciência, pela primeira vez, do potencial destrutivo desta droga.
 
De uma forma extremamente interessante, a proibição surtiu efeitos importantes e o uso da cocaína praticamente desapareceu por pouco mais de meio século. A cocaína ressurge no início da década de 1970 e surpreendentemente, ganha a reputação de droga segura e "light", a "vitamina dos anos 90". O resultado disto foi a explosão do consumo na América do norte, atingindo seu pico em 1985 nos Estados Unidos da América e cinco anos mais tarde em nosso país. O Brasil passa a ser reconhecido como uma das principais vias de exportação da droga, principalmente para a Europa.
 
Em meados da década passada a sociedade teve contato com o "crack". Denominado de "pedra" pelos usuários em nosso meio, é consumido por "via" fumada. A pedra unitária tem preço mais acessível, promovendo a impressão que o usuário economiza quando troca o consumo do pó pela pedra. Grande ilusão: a "pedra" tem quantidade mínima de substância ativa, muito menor do que o pó; seus efeitos, porém são mais pronunciados pela liberação da cocaína diretamente na corrente sangüínea através dos pulmões. Reputado como "uma nova droga" o crack não passa de um novo método de consumo de uma droga muito antiga. Próximo às áreas de produção, entretanto, uma outra forma de fumar a cocaína, há muito era utilizada: a pasta-base. Esta é uma mistura das folhas com solventes químicos, que apresenta enorme toxicidade (40% de impurezas). Uma outra forma de fumar a cocaína é conhecida em várias regiões do Brasil com o nome de Méla ou Merla. Esta é mais tóxica ainda que a pasta base, sendo que as complicações médicas são ainda mais precoces no curso do uso da cocaína. Outra forma ainda que o organismo absorve a cocaína é através de mucosas. As complicações médicas deste consumo são imprevisíveis e freqüentemente letais.
 
No processo de produção da droga, éter, acetona, querosene, ácido sulfúrico, ácido clorídrico, amoníaco são usados, contribuindo para a toxicidade da droga. Outras substâncias igualmente tóxicas (gasolina, talco, etc.) freqüentemente são acrescidas à cocaína já produzida, com a finalidade de aumentar o lucro do tráfico. Mudam os processos de produção, as vias de utilização e os produtos finais, porém em comum a todas encontramos a mesma substância ativa: a cocaína.
 
Também em comum às diversas formas de consumo temos a Dependência, o uso compulsivo, as complicações em várias áreas de funcionamento do consumidor (família, saúde, ocupação, entre outras), o imenso custo social e de saúde (estimado em até 300 bilhões de dólares norte-americanos por ano, apenas nos EUA), a criminalidade e enfim, a morte.
 
Utilizaremos, nesta publicação o termo cocaína abrangendo todas as formas de consumo citadas acima, não exclusivamente ao consumo do pó. Vale ressaltar que muitos usuários relatam mais de uma via de administração da droga, freqüentemente citada como: "a que estiver disponível, consumimos". Acrescentaremos, sempre que necessário, as características que diferem as formas nos tópicos abordados.
Quais os efeitos imediatos (agudos) do uso da cocaína? O consumo intranasal de cocaína produz seus efeitos entre 1 e 2 minutos após o uso, tendo duração de 30 minutos, em média. Tanto o uso endovenoso como o fumado, produzem efeitos quase imediatos, porém estes se dissipam mais rapidamente (até 10 minutos), muitas vezes obrigando o indivíduo a voltar a utilizar a droga após 5 minutos. Os metabólitos (produtos ou "restos" do uso da substância ativa) podem ser detectados alguns minutos após poucas aspirações (ou injeção), permanecendo por até três dias.
 
O efeito imediato esperado pelo consumidor é a euforia produzida pela cocaína. Conjuntamente com a estimulação produzida, dá a falsa sensação ao indivíduo de aumento de suas capacidades físicas, intelectuais e energia. Diminui o apetite e a necessidade de sono, o indivíduo fica mais ansioso e às vezes passa a suspeitar que está sendo observado ou perseguido. Usuários contam que a sensação do tato torna-se mais intensa, bem como a disposição para manter relações sexuais. A cocaína pode promover até ejaculação espontânea, dependendo da dose e da via utilizada. Este efeito repetido, porém, tem como conseqüência, em muitos usuários, a perda da capacidade de obter prazer sexual convencional, que se mantém por meses após a interrupção do consumo da droga.

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A euforia se transforma rapidamente em depressão e irritabilidade, aumentando a necessidade de voltar a acender o cachimbo ou "esticar" mais uma fileira. O sujeito passa a ter uma autoconfiança irreal, podendo ainda apresentar alucinações (auditivas e visuais) e delírios de perseguição, indistinguíveis da patologia psiquiátrica (ex. Esquizofrenia). Sintomas físicos do consumo são observados: aumento da pressão arterial, aumento da freqüência dos batimentos cardíacos, constrição dos vasos sangüíneos (desaparecimento de veias), aumento da temperatura corpórea, liberação de açúcar no sangue, e aumento da força da contração do músculo cardíaco. A droga tem a capacidade de promover anestesia local, fato que motivou sua utilização médica no século XIX. A cocaína possibilitou, de fato, a primeira cirurgia oftálmica – como conseqüência indireta deste fato, o primeiro oftalmologista a realizar esta cirurgia tornou-se dependente da droga, interrompendo precocemente sua carreira profissional. Devido aos riscos da droga e ao desenvolvimento de outros anestésicos seguros, tal utilização foi completamente banida da Medicina até 1914. Quando os efeitos da droga dissipam, o usuário conta que apresenta sintomas contrários (depressão, angústia, etc.) , levando-o ao desespero por uma nova dose ("fissura" – característica mais proeminente de todas as formas de consumo da cocaína).

Quais as conseqüências do uso continuado (crônico) da cocaína?
Se os efeitos agudos da cocaína já são perigosos, os efeitos e conseqüências do uso continuado são letais. Suas conseqüências são quase sempre desastrosas sobre a vida do usuário, promovendo prejuízos em suas mais diversas áreas de funcionamento. Depressão intensa com risco de suicídio, desmotivação, sonolência, irritabilidade crônica, episódios paroxísticos de ansiedade (ataques de pânico) e finalmente psicose paranóide (O indivíduo tem certeza que está sendo perseguido, mesmo confrontado com a inexistência de indícios reais) são os efeitos psíquicos mais observados na utilização crônica da droga. As complicações médicas são destacadas no próximo capítulo. Se antes do uso o indivíduo já apresentar sintomas depressivos, estes se tornam mais severos ainda, resultando ocasionalmente em tentativas de suicídio.
 
Separação conjugal, abandono de atividades ocupacionais (ex. perda de emprego), incapacidade de cumprimento de obrigações sociais, dependência financeira ou engajamento em atividades criminais são descritos por muitos usuários "crônicos".
Aos efeitos crônicos associam-se os efeitos potencialmente letais da droga. O uso de cocaína é a principal causa de infarto agudo de miocárdio em jovens (até 40 anos) nos EUA. A cocaína altera o ritmo elétrico cardíaco, produzindo arritmias, que podem ser visualizadas no eletrocardiograma. O aumento da pressão arterial descrito no capítulo anterior contribui para a ocorrência de hemorragias (sangramentos) em diversas partes do corpo, inclusive no cérebro, possibilitando a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais (conhecidos como "derrame"). O aumento de temperatura corpórea pode atingir mais de 42º, provocando a morte por hipertermia. Doses maiores estão relacionadas com parada respiratória. 
Uma das conseqüências mais importantes do consumo da cocaína é o surgimento de convulsões. A cocaína é um potente facilitador da ocorrência de convulsões de todos os tipos, principalmente tônico-clônicas (indistinguíveis daquelas da epilepsia). Em animais de laboratório (geralmente ratos e macacos) "tratados" com cocaína, observamos mortes por convulsões (acompanhados de inanição e exaustão) após 17 dias de consumo da droga. Imagina-se que caso o ser humano tivesse acesso irrestrito à droga, o resultado seria muito semelhante.
 
Complicações médicas do consumo de cocaína e crack 
Podemos dividir as complicações associadas à droga em:


Complicações médicas do consumo de cocaína:
  • Decorrentes dos efeitos próprios da droga: complicações médicas e psiquiátricas
  • Decorrentes das substâncias adicionadas à cocaína (adulterantes)
  • Decorrentes da via de consumo utilizada
  • Decorrentes do estilo de vida do usuário de cocaína


As conseqüências médicas do consumo vão desde um ligeiro sangramento nasal após um uso isolado, até comprometimentos irrecuperáveis e morte, como enfatizado no capítulo anterior. Alguns dos mais dramáticos comprometimentos da cocaína ocorrem sobre o Sistema Cárdio-respiratório. Angina de peito, infarto agudo do miocárdio e aumento do volume cardíaco são os efeitos mais proeminentes observados sobre o coração. Usuários crônicos apresentam capacidade respiratória reduzida e maior dificuldade de transporte de oxigênio. Um quadro agudo relatado por usuários por via fumada é conhecido como "Pulmão de crack": dor intensa no peito, falta de ar e tosse sanguinolenta. Freqüentemente o indivíduo se queixa de impotência sexual, incapacidade de ejaculação ou de obter o orgasmo. Diminuição do desejo sexual é observada em usuários crônicos de ambos os sexos. Tentativas de suicídio são comuns entre usuários de grandes doses. As oscilações entre a euforia produzida pelos efeitos da droga e a depressão posterior estão relacionadas às tentativas, bem como o próprio estilo de vida do indivíduo.
As complicações pela via de consumo ocorrem em conjunto com as complicações pela via de consumo preferencial. As mais comuns são infecções de pele (injeções contaminadas), infecção na válvula cardíaca, AIDS e Hepatite. A pele infectada se apresenta inchada, dolorida, avermelhada e quente; quando presentes febre e calafrios podem ser indicativo que a infecção atingiu o sangue e/ou outros órgãos (Sepsis). Esta é uma conseqüência letal se o indivíduo não se apresentar para tratamento imediato. O uso por via intravenosa transmite infecções de um usuário para outro, sendo as mais dramáticas a Hepatite por vírus e a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS).
As lesões no fígado podem ter ainda causas tóxicas, pelas substâncias adicionadas, somando-se aos efeitos do álcool que é consumido conjuntamente à cocaína.

Endocardite bacteriana é a denominação médica para a infecção sobre as válvulas cardíacas. Bactérias encontradas na própria pele do usuário ou na água utilizada para diluir a droga, são injetadas conjuntamente à coca e encontram dentro do coração um local seguro para se instalar e reproduzir. As válvulas cardíacas passam a ter funcionamento prejudicado, com dificuldades para deixar passar o fluxo de sangue ou ainda não conseguindo evitar que o sangue bombeado pelo coração reflua. Ao exame físico são ouvidos sopros cardíacos e a ultra-sonografia (Ecocardiografia) comprova o diagnóstico. A condição deve ser prescrita com antibióticos por períodos longos, e mesmo quando tratada adequadamente pode necessitar cirurgia cardíaca para reposição da válvula acometida.


O estilo de vida do usuário crônico predispõe a complicações de outra ordem. É mais comum que o usuário crônico de cocaína também utilize álcool e outras drogas, podendo desenvolver dependência a estas. Dependência de mais de uma substância representa potencialização dos efeitos danosos de cada uma. O usuário crônico usualmente se engaja em atividades ilícitas (criminais) para obtenção da droga e manutenção do consumo. O envolvimento criminal, por sua vez, resulta muitas vezes em acidentes e homicídios, que podem ser considerados também como complicações médicas do consumo da droga, além de suicídio, citado anteriormente.
 
Cocaína e mulheres
 
Até pouco tempo atrás, pensava-se que todos os dependentes eram iguais e assim formariam um grupo homogêneo. Somente nos últimos 25 anos os serviços de tratamento perceberam a necessidade de identificar subgrupos de dependentes, com a finalidade de ajustar as propostas terapêuticas para cada subgrupo.
 
Com o aumento da procura de tratamento por pacientes do sexo feminino foram verificadas características diferenciais, próprias desta população. O consumo de álcool e drogas em mulheres carrega um estigma social e moral mais intenso, as mulheres costumam procurar tratamentos médicos clínicos gerais ao invés de serviços especializados em tratamento de dependência química, suas razões para início e manutenção do consumo são diferentes (p.ex. os homens costumam consumir com amigos e a mulher, sozinha), bem como o impacto das drogas sobre sua saúde.
Também é mais freqüente encontrarmos co-morbidade psiquiátrica (associação de transtornos psiquiátricos, principalmente Depressão, com Abuso e Síndrome de Dependência) em mulheres do que na população dependente masculina, demandando tratamento associado de ambos os quadros clínicos. O organismo da mulher parece mais frágil ao impacto da cocaína, com maiores alterações hormonais, que acarretam desde produção de leite até ausência dos ciclos menstruais.

As complicações clínicas costumam ser também precoces, sendo de fundamental importância (e gravidade) a associação de gravidez com o consumo de cocaína. A cocaína atravessa rapidamente a placenta, exercendo todos os seus efeitos físicos sobre o feto (hipertensão, constrição de vasos sangüíneos), levando à falta de oxigenação e suprimento de sangue adequado. Recém-nascidos de gestantes consumidoras apresentam diversas complicações que incluem baixo peso ao nascimento, morte logo após o parto, malformações (genitais, urinárias, redução do tamanho do cérebro, entre outras), hemorragia cerebral, alterações de padrão de sono, diminuição de alimentação, aumento de reflexos e disfunções musculares. Estas últimas podem durar até 2,5 meses após o parto. Uma parcela das mulheres dependentes de cocaína se engaja em prostituição como forma de obtenção de droga. O inverso também parece ser verdadeiro, havendo uma alta prevalência de prostitutas que consomem cocaína, álcool e outras drogas. Problemas relacionados à impulsividade, dificuldades interpessoais e dificuldade no julgamento foram associadas às dependentes de cocaína. Porém não se conseguiu definir se estas características eram anteriores ou conseqüências do consumo da droga.
Algumas considerações adicionais, relativas ao tratamento de mulheres dependentes, devem ser enfatizadas, com a finalidade de possibilitar melhores resultados terapêuticos:
Prover possibilidade de cuidados para os filhos, no mínimo durante os momentos que a paciente se encontra em contato com o serviço de tratamento.
Identificar rapidamente padrões de consumo compulsivo (ou Abuso/Dependência) de medicações prescritas, que dificultam o engajamento da paciente no processo de recuperação e mudança do estilo de vida (por exemplo, "calmantes").
Treinamento intensivo de auto-estima, geralmente mais abalada do que na população dependente do sexo masculino.
Modelagem dos papéis sociais da mulher (por exemplo, familiar e ocupacional).
 
Cocaína e crack entre adolescentes
 
O período que abrange o final da adolescência até o início da idade adulta é a fase da vida em que existe maior risco para o início do uso de cocaína. A adolescência é considerada uma fase crítica da vida do indivíduo, onde ocorrem diversas modificações internas (características da personalidade) e externas, como por exemplo, o surgimento de caracteres sexuais secundários. O indivíduo se afasta dos pais e aproxima-se de colegas e amigos, fazendo uso da "liberdade" conquistada (de forma gradativa ou abrupta). Esta fase também é reconhecida como tendo um grande componente de ansiedade e estresse. O adolescente apresenta também uma tendência natural para o envolvimento em situações de risco. A dificuldade na previsão de conseqüências no futuro (prospecção) faz que o indivíduo jovem viva exclusivamente o "aqui e agora". Estes fatores parecem contribuir para a experimentação de álcool e drogas, particularmente a cocaína em nosso meio.
O indivíduo jovem busca, então, ser admitido em um grupo social de "iguais", o que inclui a aquisição dos comportamentos deste grupo, e a experimentação de álcool e drogas geralmente consiste em um dos principais comportamentos. A cocaína ocupa a 8ª posição entre as drogas de abuso no Brasil, tendo seu consumo quadruplicado nesta população entre 1987 e 1997 (0,5% para 2% entre estudantes de 1º e 2º graus). O mesmo levantamento aponta o crescimento do consumo ao longo da vida, bem como o aumento de usuários "pesados" nesta população em 8 entre 10 capitais pesquisadas, sendo que as taxas de uso freqüente aumentaram em 6 cidades pesquisadas. Entre 1993 e 1997 o crescimento do uso durante algum momento na vida do estudante de primeiro e segundo grau foi da ordem de 80%, indicando a importância do problema do consumo dessa droga entre adolescentes (Galduróz, J.C.F.; Noto, A.R.; Carlini, E.A.).
Entre os adolescentes em tratamento no Hospital de Clínicas em São Paulo, a cocaína é a segunda droga mais consumida, perdendo apenas para a maconha (Scivoletto, S.; Andrade, E.R.).

A adolescência é considerada como um período crítico para o surgimento de complicações pelo consumo de substâncias psicoativas. Adolescentes tem progressão mais rápida do consumo e de seus resultados danosos. Os prejuízos que o consumo acarreta levam a conseqüências de difícil reversão: interrupção do desenvolvimento da personalidade, resultando em deficiências futuras do funcionamento do indivíduo. O consumo afeta ainda o desenvolvimento das funções sociais do sujeito, bem como o estabelecimento de relações interpessoais (p.ex. afetivas). Este quadro apresentado acima torna o consumo de álcool e drogas nesta população um problema ainda mais catastrófico do que o observado em indivíduos na fase adulta. O tratamento, portanto, deve ter início o quanto antes.
O tratamento deve ter a orientação para a abstinência total e de todas as drogas (e álcool), da mesma forma que deve ocorrer na população adulta. Porém esta tarefa é muito mais difícil para o adolescente, pelo fato do adolescente não dispor, ainda, de um sistema de suporte social (trabalho, relações afetivas, etc.). A família constitui a única exceção. Outro problema adicional para os adolescentes é representado pelo modelo assistencial, que vem sendo desenvolvido neste século voltado à população adulta. Isto resulta em dificuldades intrínsecas para a obtenção de sucesso terapêutico. Adolescentes dependentes têm, por exemplo, poucas (ou nenhuma) atividades alternativas ao consumo de álcool e drogas, e inúmeras vezes só tem relacionamentos com outros usuários, traficantes e dependentes. Piorando ainda mais a situação, o engajamento em micro-tráfico ("avião") é uma das maneiras freqüentes de obtenção da droga.
Os objetivos terapêuticos do tratamento da população de adultos jovens devem incluir proposta de mudança global do funcionamento do indivíduo e de seu estilo de vida, desenvolvimento de valores "saudáveis", atitudes e comportamentos que propiciem a interação social positiva e esforço para a reabilitação ocupacional (escola, preparação vocacional, etc.), de forma ainda mais intensiva que para a população adulta.
Muitos usuários começam a utilizar cocaína durante o período acadêmico, e uma parcela deste grupo passa a consumir a droga também em outras situações, mantendo e agravando o consumo da cocaína, propiciando as condições ideais para o desenvolvimento da Dependência. Um corolário dos aspectos apresentados neste capítulo é o uso de drogas entre estudantes universitários, que se encontram na fase de vida imediatamente posterior à adolescência. Este aspecto é de extrema importância, uma vez que os universitários irão a futuro breve, constituir a massa crítica da nação. Em nosso país a situação também merece cuidados especiais; estudo realizado na Universidade de São Paulo detectou taxas de até 8% de consumo de cocaína na população estudante (Andrade, A.G.; Queiroz, S.; Villaboim, R.M.C.).
A melhor abordagem do problema, apresentando também a melhor relação custo-benefício possível é a prevenção ao abuso de drogas. Prevenir significa desenvolver programas junto às comunidades (em geral), pesquisando as características próprias cada uma delas e, de acordo com suas particularidades, elaborar estratégias para evitar tanto o início do consumo como o caminho rumo aos transtornos decorrentes das substâncias psicoativas (abuso e dependência), incluindo da cocaína. Estes programas há muito já se fazem necessários para a efetiva abordagem do problema do consumo de drogas entre adolescentes.

Cocaína e a família 
Familiares compartilham genes que podem contribuir para o abuso de drogas. Isto é verificado na dependência do álcool, quando se observa que gêmeos separados ao nascimento têm grande concordância no diagnóstico de Dependência de álcool quando atingem a adolescência ou a idade adulta. Por outro lado, familiares também compartilham o mesmo meio ambiente, cultura e eventos vitais, havendo a possibilidade da aprendizagem de comportamentos, inclusive de consumo de álcool e drogas.
 
A Dependência de substâncias psicoativas é definida como um transtorno individual. Muitos especialistas aceitam, porém, o conceito da dependência como doença familiar, por atingir diretamente não só o usuário, mas aqueles que o cercam. As reações familiares à dependência na família abrangem um enorme leque que vai desde a expulsão de casa até a aceitação do consumo dentro do ambiente familiar. Costumamos denominar este último de "FACILITAÇÃO" (favorecimento de comportamentos e atitudes relativos ao consumo de drogas), que sempre acarreta conseqüências desastrosas. Embora compreensível, aceitar que o familiar utilize qualquer tipo de drogas dentro de casa (geralmente para evitar as complicações legais) estimula os múltiplos comportamentos relacionados à intensificação do consumo, aceleração do desenvolvimento da dependência, dificuldade de trazer o indivíduo para o tratamento e ocorrência de complicações precoces (médicas, psicológicas e sociais). Entre os principais exemplos de facilitação encontram-se a liberdade excessiva, a preocupação em ocultar as falhas que o usuário apresenta (desculpas para a escola, trabalho, etc.), falta de limites (dinheiro, horários, aceitação de agressividade) ou mesmo "fechar os olhos" para as demais conseqüências que o usuário passa a apresentar quando se torna abusador ou dependente. A família necessita participar ativamente do tratamento e do processo de recuperação do dependente, como núcleo de suporte fundamental do indivíduo. Esta tarefa, porém, não é nada fácil, dados os prejuízos sofridos pelos familiares durante o curso da dependência do álcool e/ou drogas (agressões, furtos domésticos, doenças do paciente, etc.). Para tanto, paralelamente ao tratamento individual, uma intervenção terapêutica familiar é sempre aconselhável.


Intervenções familiares no tratamento da Dependência MODELOS DE TERAPÊUTICA FAMILIAR
NÍVEL DE INTERVENÇÃO
OBJETIVOS 


Orientação familiar 
 
Orientar os familiares da filosofia e abordagens do tratamento individual
Informar a família sobre o programa terapêutico e a inclusão do paciente e solicitar suporte familiar

Grupos psico-educacionais de familiares 
 
Orientação sobre aspectos vivenciais (funcionamento familiar) com ênfase em aspectos do consumo e da dependência
Informar familiares se aspectos de relações pessoais e como estas são relevantes no abuso e dependência de substâncias
 
Aconselhamento familiar 
 
Contrato de tratamento familiar com o objetivo de resolução de problemas familiares específicos identificados no tratamento do dependente.
Auxiliar na solução de problemas identificados pelos integrantes da família que sejam relacionados ao consumo de drogas e/ou álcool
 
Terapia familiar 
 
Contrato terapêutico com a família para intervenções com o objetivo de tratar disfunções crônicas e sistêmicas.
Abordar e procurar modificar áreas de comprometimento familiar (sistema), relacionando-as à dependência de substâncias psicoativas

Al-Anon 
Grupo de auto-ajuda com enfoque familiar
 
Não é considerado tratamento, porém possibilita compartilhar experiências com outras famílias de dependentes.

Tratamento para indivíduos com abuso ou dependência de cocaína e crack
 
A dependência de cocaína é um transtorno passível de tratamento, ao contrário do que muitas pessoas pensam. Porém é certo que nenhum modelo de tratamento pode ser considerado eficaz para todos os pacientes. Indivíduos que desenvolvem Dependência de cocaína possuem diferentes características e necessidades. Estudos apontam uma boa relação custo-benefício do tratamento; o resultado mais comum dos diversos tratamentos é a redução do consumo nos anos posteriores, bem como a diminuição das atividades ilegais e do comportamento criminal do dependente. O tratamento, porém, necessita ser entendido como um processo contínuo, assim como modelos médicos utilizados em doenças crônicas, como Diabetes e hipertensão arterial. Nem todos os usuários necessitam de tratamento; muitos interrompem definitivamente o consumo após o surgimento dos primeiros prejuízos. Outros, todavia, continuam a usar a cocaína apesar das conseqüências evidentes que passam a apresentar. A necessidade do tratamento é muitas vezes determinada pelo envolvimento obsessivo do sujeito com a droga que passa a prejudicar os demais aspectos de sua vida.
O processo terapêutico inicia com medidas para trazer o paciente para os serviços de assistência. O dependente não procura tratamento por achar que está usando droga demasiadamente, mas sempre frente a "situações de crise", geralmente envolvendo trabalho, família, situação financeira, problemas legais, emergências médicas e rompimento de relacionamento afetivo. Uma forma de promover o acesso do indivíduo a tratamento é interromper a "FACILITAÇÃO" familiar, conforme discutido no capítulo anterior. No momento do ingresso ao tratamento, quase sempre o paciente tem a ilusão de poder retornar ao uso controlado da cocaína ("dar um tempo"). Esta ocorrência é impossível, pois uma vez cruzada a linha invisível da dependência, a capacidade de retorno a consumo ocasional ou controlado é definitivamente perdida (Washton, 1991). Muitas vezes o paciente demora meses ou anos, com inúmeras recaídas e aumento dos prejuízos, até que se conscientize deste fato.
Qualquer modelo de tratamento para a dependência da cocaína deve incluir alguns aspectos básicos, fundamentais para a obtenção de resultados positivos. A abstinência deve ser não somente da cocaína, mas de todas as drogas de abuso, primeiro e principal objetivo do processo terapêutico. Tanto o álcool como outras drogas deflagram "fissuras", mesmo meses (ou anos) após a interrupção da cocaína; como citado acima, o consumo tem um efeito desinibitório sobre o consumo de outras drogas (reduz a capacidade de evitar o consumo), aumentando ainda a impulsividade do paciente.
Aspectos psico-educacionais, tanto sobre a cocaína, álcool e outras drogas, como sobre a própria dependência devem sempre ser incluídos em qualquer modalidade terapêutica empregada. Este componente auxilia o paciente a compreender e aceitar a própria dependência. Deve incluir aspectos farmacológicos, princípios básicos da doença, sinais de recaída e formas de preveni-las, as conseqüências bio-psicossociais da dependência, aspectos familiares, capacitação e co-dependência (p.ex. cônjuge do dependente). O envolvimento familiar é fundamental. Outras medidas que costumam ser incluídas no processo são: terapia individual e familiar, participação de grupos de auto-ajuda, busca de atividades alternativas ao consumo de substâncias psicoativas, cuidados médicos, nutricionais e dentários, análises toxicológicas, intervenção farmacológica prescrita por profissional afeito às características da dependência e tratamento em regime de internação (hospitalar e comunidades terapêuticas). Quanto mais abrangente e completo o programa terapêutico, maior a chance de recuperação.
 
A internação do dependente, ao contrário do que se acreditava antigamente, não é solução para todos os pacientes. Ao contrário, os estudos científicos realizados nas últimas décadas não comprovam nenhuma vantagem de um método hospitalar em relação a ambulatório para toda a população de dependentes que buscam, ou são levados para o tratamento. Pelo contrário, a internação é melhor entendida como um método de promoção de abstinência, apenas uma parte da recuperação do indivíduo, devendo SEMPRE ser associada a seguimento ambulatorial posterior. O tratamento em ambulatório, de fato apresenta algumas vantagens sobre a internação, por ser menos custoso (possibilita ao serviço o tratamento de um maior número de dependentes), causar menor interrupção na vida do indivíduo (muito dependentes que procuram tratamento, por exemplo, continuam a manter atividades sociais e ocupacionais importantes, auxiliando na manutenção de toda sua família). A internação carrega também um estigma social importante, que é delegado ao indivíduo. O dependente aceita, mais facilmente o tratamento ambulatorial e este modelo busca que o paciente lide com sua compulsão em seu "mundo real" (ao qual irá retornar muitas vezes despreparado após período de internação). Por outro lado, existem algumas indicações importantes de internação, apresentadas na tabela abaixo:
Indicações de internação para dependentes


PRINCIPAIS INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO PARA DEPENDENTES 
  • Risco de suicídio, agressividade física importante, quadro psicótico
  • Doenças médicas ou psiquiátricas associadas que indiquem internação (infarto de miocárdio, convulsões, etc.)
  • Intensa disfunção de vida do dependente ou incapacidade de lidar com tarefas básicas de sua própria rotina (cuidados pessoais, alimentação, etc.)
  • Dependência associada de substâncias que requerem tratamento hospitalar (abstinência de álcool ou opióides)
  • Fracasso das tentativas de abordagem ambulatorial do dependente


BIBLIOGRAFIA E LEITURAS RECOMENDADAS 
  • Andrade, A.G.; Queiroz, S.; Villaboim, R.M.C. et al: Uso de álcool e drogas entre alunos de graduação da Universidade de São Paulo. Revista ABP-APAL, n.º 19, p. 53-59, 1997.
  • Carroll, M.: COCAINE AND CRACK. Springfield, Enslow, 1994.
  • Galduróz, J.C.F.; Noto, A.R.; Carlini, E.A.: IV Levantamento sobre uso de drogas entre estudantes de 1º e 2º graus em 10 capitais brasileiras, São Paulo, CEBRID, 1997.
  • Kosten, T.R.; Kleber, H.D.: CLINICIAN’S GUIDE TO COCAINE ADDICTION. New York, Guilford, 1992.
  • Leite, M.C., Andrade, A.G.: COCAÍNA E CRACK: DOS FUNDAMENTOS AO TRATAMENTO, Porto Alegre, Ed. Artmed, 1999.
  • Peck, R.G.: CRACK.. Rosen, New York, 1993.
  • Scivoletto, S.; Andrade, E.R.: A cocaína e o adolescente. In Leite, M.C., Andrade, A.G.: COCAÍNA E CRACK: DOS FUNDAMENTOS AO TRATAMENTO, Porto Alegre, Ed. Artmed, 1999.
  • Washton, A.M.: COCAINE ADDICTION: Treatment, Recovery and Relapse Prevention. New York, W.W. Norton , 1991.
  • Weiss, R.D.; Mirin, S.M.; Bartel, R.L.: COCAINE. Washington, DC , American Psychiatric Press, 1994.

    sexta-feira, 2 de novembro de 2012

    Educação, Compreensão e Palavras de Conforto







    Caro L.:

    Com a devida licença peço-lhe que me dê um espaço neste blog para que eu volte à flor da terra e trate de recordar minha drogadição, utilizando o recurso estilistíco da canção, O QUE SERÁ QUE SERÁ e outras. Uma vez adicto sempre adicto e não podemos nos esquecer esta nossa condição. Foi muito bom ter tocado, suavemente, em lances que também já vivenciei.

    Meu prezado, estive verificando a letra da música de Chico Buarque, que, de passagem, você citou e fiquei um pouco perplexo com alguns dos versos da mesma. 

    Não sei qual a condição social de ninguém, apenas sei que a minha é considerada boa, com um circulo social excelente. Contudo, nas alcovas (O que será que será/Que andam suspirando Pelas alcovas?) gente, de carne e osso como nós, vive a comentar sobre nossos momentos de fraqueza. Nem Jesus Cristo, em sua Via Crucis, escapou de tal momento. 

    Viver no mundo das drogas é um suplicio amargo e a bondade e generosidade dos que nos olham com amor, muitas vezes falta a esta gente, que também anda "falando alto Pelos botecos/ E gritam nos mercados/ Que com certeza/Está na natureza ... O que não tem certeza/Nem nunca terá!/O que não tem conserto/Nem nunca terá!". Não escaparemos nem das calúnias, nem dos estigmas, infelizmente. 

    Teremos que enfrentar o passado de cabeça erguida e, a falta de certeza nesta gente, chama-se esperança em nós. Lutei bastante, orava, tinha uma enorme fé em mim e em meu poder superior, mas, mesmo assim, tropecei inúmeras vezes, como um ser humano qualquer. Na vida, todos nós tivemos que tropeçar em algo e nos machucamos, mas aprendemos a nos consertar, aprendemos a evitar tropeços, contudo, mesmo com idade avançada, ainda tomo topadas pelas ruas e até cair, caio. É doloroso aprender a evitar o sofrimento através da dor, mas é uma forma de aprendizagem. 

    Na vida de um drogadicto muitas serão as topadas, tropeços e quedas e que estas não sirvam como desalento, mas como um processo capaz de nos ensinar a evitar nossos erros cotidianamente, na base do SPH. 

    Ai me vem outros versos da mesma letra que reza o seguinte: 

    O que será que Será? /Que vive nas idéias/Desses amantes/Que cantam os poetas/Mais delirantes/Que juram os profetas / Embriagados/ Está na romaria/ Dos mutilados Está nas fantasias/ Dos infelizes/Está no dia a dia /Das meretrizes /No plano dos bandidos / Dos desvalidos/ Em todos os sentidos/Será? Que será? / O que não tem decência Nem nunca terá!/ O que não tem censura / Nem nunca terá!/O que não faz sentido... 

    É curiosa e inteligente a contraposição do "em todos os sentidos" com "o que não faz sentido" Nestes versos está o ambiente que cerca o drogadicto em um amplo espectro do que convencionamos chamar de escala social, com a predominância dos "marginalizados" pelo uso. A sociedade desinformada peca pela discriminação, pelo preconceito, pela rejeição, pela mentalidade tacanha e por ai prosseguiria... 

    Palavras de conforto, de encorajamento, de força e fé, que ajudem um adicto a se levantar e recomeçar a viver a vida real, a vida verdadeira, sem as fantasias e falsas percepções sensoriais do mundo da drogadição, constituem um alento para quem sofre. Mas a realidade que desejo ainda está distante, mas um dia chegaremos a alcançar nosso objetivo comum...

    Sabe, companheiro, nós que vivemos no mesmo TITANIC e que saímos ilesos do naufrágio, não estamos imunes a recaídas, mas estamos muito mais propensos a não recar e se isto ocorrer, com certeza saberemos nos recompor, rapidamente. 

    Sobre seu amigo, sabe compor o universo dele porque admirável é o seu mundo, notável sua visão e argumentos sutis, farto em bondade e generoso em amor incondicional, dá a ele o alento necessário para soerguer-se, ainda mais quando uma mão lhe é estendida sob o manto protetor do abraço carinhoso e amigo, que refrigera a alma e aplaca inúmeros sofrimentos, reconfortando quem padece do vício de qualquer droga. 

    Refleti quanto a necessidade de levar ao mundo da educação e da cultura o significado da adicção, de como se deve lidar com um drogadicto, sem os olhos do preconceito, mas com uma nova visão e um novo olhar, que nada mais é que o olhar humano da compreensão. Falta-nos organização para conquistarmos o direito de educar e instruir nossos estudantes a conhecer melhor a adicção. Um dia, alguém, de mente aberta, vai concretizar este meu sonho, sob o manto do apelo.  

    Continue e siga em frente, ajudando a quem precisa de ajuda, ainda que a ajuda não seja necessitada. Palavras amenas confortam e o coração suaviza e tranquilizam almas irriquietas. 

    Aquele abraço (que nos une), 

    Do anônimo. 

    J.

    Um troço qualquer morreu

    Meu caro amigo Zezinho,

    Faz um bom tempo que não nos encontramos, que não nos vimos, que não estamos sentados numa mesa de bar, alegres e sorridentes. Tantas coisas mudaram e alteraram nossas vidas, não é mesmo?  Eu aprendi muito com aquela minha vidinha vulgar, de mesa em mesa, de bar em bar. Um dia cansei daquela euforia artificial e preferi ser do jeito e da maneira que sou. 

    Recordo que um belo dia lí, em algum lugar do passado, uma frase de Engels : "A liberdade nasce do conhecimento da necessidade". Esta frase que lhe pode parecer oca é uma verdade que me aconteceu e me trouxe ao mundo da sobriedade.

    Companheiro, você sabe que nos não éramos só álcool no organismo. Chegamos, com o correr do tempo, a nos tornarmos num "total flex". Usavámos tudo em nossa insanidade, corríamos perigos absurdos que só mesmo a drogadição pode nos levar. Chegamos ao ponto de usarmos aquela droga infeliz, que é a cocaína fumada, em latas e cachimbos. Fomos a quase todas as quebradas, becos, vielas, barracos e favelas numa busca deplorável por ciscos de droga. 

    Largamos nossas mulheres e filhos entregues ao desespero e é muito natural que nossos entes queridos entrem em desespero, porque nós só éramos desespero. Sabe, aquela frase que diz "quando a gente ama, é claro que a gente cuida"? Pois é, ela, hoje, tem uma nova significação que não é mais e tão somente minha. Essa frase traduz pra mim o amor dos nossos co-dependentes. Eles têm um modo de cuidar, que é deles, mesmo ciente de que a co-dependência é uma doença. Por amor se comete loucuras e nós nunca amamos o mundo das drogas, essa é a nossa verdade, muitas vezes inconfessa... e, depois de um certo tempo, passamos a renega-las e, ainda assim, num "que será que será", íamos em busca delas. Passávamos tantas horas da madrugada à cata de uma boca disponível, para fazermos uso do que já repudiávamos. Teimosamente não sabíamos nos controlar. Estávamos perdidos. 

    Hoje é dia de finados e, se olharmos para trás, poderemos enxergar aqueles caras "muito-loucos", como nós, do outro lado da vida. Nossos finados amigos, ou amigos finados, como queira! 

    Gente que se foi e que, quando morriam, costumávamos dizer que mais uma estrela brilhava no céu. Eu olhei para trás e, de vivo, só encontrei você, que, infelizmente, perdoe-me a franqueza, ainda é um "total flex".

    Mundo louco, não é mesmo Zezinho? Não sei aonde vê-lo agora, para confortar-me e abraça-lo, feliz em saber que está vivo e que você vai levando essa chama (ultrajante) que se opõe ao que denominamos vida
    .
    Libertei-me, de tantas coisas, mas não me libertei do desejo de querer lhe ver outra vez, como fomos em nossa juventude, limpos e caretas, mas felizes, compartilhando outras especies de loucuras que, ou eram sonhos, ou eram meras ilusões... mas tantos sonhos bons que tivemos concretizaram-se, não é mesmo?
    Sei que mesmo com " com toda a fama, com toda a brahma... a gente vai levando" ; eu de uma forma, você de outra. Estamos em mundos diferentes, agora, mas no mesmo plano. 

    Quero que saiba que sou seu amigo, Tão amigo que pensei em mudar um trecho, da letra da canção de Chaplin, cuja versão diz:

    "Vidas que se acabam a sorrir
    Luzes que se apagam, nada mais
    É sonhar em vão tentar aos outros iludir
    Se o que se foi pra nós
    Não voltará jamais
    Para que chorar o que passou
    Lamentar perdidas ilusões
    Se o ideal que sempre nos acalentou
    Renascerá em outros corações"

    Sim, sei, é uma versão! Mudar o que, afinal? pense! Perdemos muitas coisas, mas tem muita coisa que eu acho que poderia mudar, em todos nós, para que nossas vidas (verdadeiras novelas dramáticas) tenham um final feliz, para que nossos dramas transformem-se, ao menos, em comedias.

    Pois é amigo, só queria lhe dizer, que mesmo sabendo que a gente não tem cura, que reconquistei algo que desprezei por muito tempo: minha vida, tenho uma esperança viva em você que me toca o coração!

    Qualquer dia nos veremos e, creia, lhe abraçarei, ainda que o seu abraço seja diferente do que foi um dia, mesmo que seu sorriso seja triste, mesmo que sinta vergonha, ou tente escapulir de uma pequena prosa, esquivando-se. Eu te entendo porque fomos muito parecidos, até o dia em que li que "a liberdade nasce do conhecimento da necessidade"; é uma frase simples e ao mesmo tempo complexa, contida na ideologia marxista, que me salvou e o me salvar é o que importa, só por hoje. 

    Creia amigo, eu tive uma vontade, uma boa e inquebrantável vontade; eu queria, era preciso, tinha que mudar, do jeito que era não poderia mais ficar, não podia ser. Aquele pesadelo parece ter se finado em mim, cara. 

    Pois hoje, dia de finados, a droga morreu pra mim e eu estou vivo festejando a vida e orando pelos que usam, pelos que ainda estão no breu das tocas, para que não se finem sem antes regressarem ao mundo real. Oro pelos meus mortos, pelos entes queridos que se foram.  

    Forte abraço, amigo.
    L.

    quarta-feira, 17 de outubro de 2012

    "A DROGA NÃO PREENCHIA O VAZIO DA MINHA VIDA"


    CASAGRANDE:

    "A DROGA NÃO PREENCHIA O VAZIO DA MINHA VIDA"



    Ídolo do Corinthians, o ex-atacante e hoje comentarista esportivo Casagrande passou por maus bocados na vida em razão da sua dependência de drogas, vício que chegou a afastá-lo das atividades profissionais e exigiu uma internação em clínica de reabilitação por um ano. Recuperado, Casão se emocionou com os depoimentos de amigos, colegas e familiares no "Domingão do Faustão" do último domingo.

    Primeiro, o ex-atleta revelou que o primeiro contato com os entorpecentes foi na adolescência, mas só depois que ele se aposentou, aos 31 anos, é que o vício começou a aparecer para preencher um "vazio" em sua vida. "Eu encontrei erroneamente um falso prazer que a droga te dá e anulava o vazio que eu tinha, mas era uma coisa muito falsa. Quando o efeito passava, o vazio ficava maior. Um dos efeitos da droga é o congelamento emocional, não te deixa nem feliz nem triste. O que te atrai nas drogas é que você não consegue lidar com aquilo sozinho", comentou.




    O ápice da emoção do ex-atleta no programa foi o depoimento de seu filho caçula, Symon, quando disse que não considerava mais Casão como amigo: "Ele fazia uma coisa que falava para a gente não fazer. Hoje eu não tenho mais um melhor amigo, mas ele tem como me reconquistar. Eu o sinto como meu melhor amigo dentro de mim, mas ele tem que me mostrar isso pessoalmente", comentou aos prantos o garoto de 18 anos.

    Quem também gravou mensagens de apoio para o colega foi o companheiro de comentários de Casagrande na Globo, Caio Ribeiro, e os locutores Cléber Machado e Galvão Bueno. O último comentou: "Foi fundamental quando você conversando com seu coração, você disse: 'Não me abandona, não velho, juntos nós vamos dar a volta por cima'."

    Agora de volta à profissão de comentarista, Casão continua se cuidando para não sair da linha novamente: "Às vezes, peço que me acompanhem quando eu saio, não é por medo de uma recaída, é porque eu fiquei muito tempo congelando minhas emoções e a gente se emociona com certas situações", disse o comentarista esportivo da Globo. E completou: "É uma armadilha. Você tem que se tratar, caso contrário você volta."

    Para se submeter a um quadro desses em um programa de TV com a abrangência do "Domingão do Faustão", Casagrande teve muita coragem e, principalmente, humildade ao falar de coração aberto dos seus erros. É um exemplo de volta por cima a ser seguido.

    CRÉDITOS:

    Fonte: http://www.gazetadailha.com.br/2011/07/11/casa-grande-fala-sobre-drogas-na-tv/
    Postado por CLUBE DE XADREZ MARABÁ

    AS CINCO FASES DO LUTO

    Luto

    O luto é uma forma de viver a morte em vida, de constatar o limite humano. No luto, a morte torna-se presente e real, partilhamos com outros o fim de um semelhante e toda a emoção que o fato desperta no humano. Mas partilhamos, também, a realidade da vida com outros, estabelecemos vínculos que possibilitam o conhecimento entre as pessoas. A psicologia tem buscado diferenciar o chamado luto normal do luto patológico, doentio. As diferenças entre eles têm sido muito, freqüentemente, motivo de discussões. Muitos autores têm dificuldade em discriminar o momento que poderíamos considerar patológica a depressão causada por uma perda.

    O luto é um processo contínuo, com cada pessoa vivenciando-o de uma forma forma diferente. Dividir o luto em 5 "fases" ajuda a pessoa enlutada a entender que as seus sentimentos são normais. Algumas pessoas passam rápido por todas as fases, enquanto outras parecem ficar "presas" numa fase específica. Resumindo, as fases do luto são as seguintes:

    1- CHOQUE E NEGAÇÃO- A realidade da morte ainda não foi aceite. Ele ou ela se sente atordoado e atônito - como se tudo aquilo fosse irreal. "Não pode ser.Deve haver algum engano..."

    2- RAIVA e CULPA- A pessoa enlutada frequentemente se volta contra a família, amigos, elas mesmas, Deus, ou o mundo em geral. Vão aparecer também sentimentos de culpa ou medo nesse estágio.

    3-BARGANHA- Nessa fase a pessoa pede por um trato ou uma recompensa de Deus,do padre. Comentários do tipo "Eu vou à Igreja todo dia se ele voltar para mim" são comuns. Algumas religiões até formalizam estas relações na forma de “promessas”

    4- DEPRESSÃO e TRISTEZA- A depressão ocorre como uma reação à mudança do modo de vida ocasionada pela perda. A pessoa enlutada se sente extremamente triste, desesperançada, inútil e cansada.

    5- ACEITAÇÃO- A aceitação acontece quando as mudanças que a perda trouxe para a pessoa se estabilizam em um novo estilo de vida. A intensidade e a duração do processo de luto dependem de vários fatores

    rédito: Medicina da Alma, Dr.MAURICIO FERNANDES LUCIO

    Retirado do blog PONTO DE VISTA

    segunda-feira, 1 de outubro de 2012

    Estou voltando pra uma casa que não é minha, marinheiro só...

    Dia 31 de abril sai com o proposito de tomar umas cervejas. Também sai com o proposito de, dia seguinte, aniversário da ex-esposa, para lhe entregar o meu cartão bancário para administra-lo.
    É bem verdade que antes do dia 31, reaproximei-me dela, porque entendo que sozinho é muito dificil. Expreso-me desta maneira porque conheço muita gente que deixou o mundo da drogadição da noite para o dia. Nessa reaproximação havia aquela coisa carnal do fazer sexo e foi por ai que se deu minha investida. Andamos bem e - como contava no inicio - no dia 1 de junho de 2012, era aniversário dela e  presente dela seria administrar o dinheiro que ganho. Ela morando com um filho que me é hostil, eu morando com meus pais. Reaproximei ela da minha mãe, de quem ela guarda mágoas, ódios e rancores, numa amargura sem fim. Mesmo assim levei, com o beneplacito da minha mão, para conversarmos no quarto... em meu quarto! Aconteceu o esperado e morreo Maria preá!
    Já na rua, dia 31, à noite, começei a beber perto de um lugar em que usava. Mas a boca não tinha droga porque o cara que vende (pra evitar ofender) estava devendo... Então a droga usada foi o alcool. Cometi insanidades, sim.
    Acontece que dia primeiro eradia de receber dinheiro e não voltei para casa. Amanheceu e fui tirar o dinheiro. Dai, pronto! peguei um taxi e fia a uma outra bocada e dei para usar. Me perdi na compulsividade.
    Não vou detalhar muito, mas numa dessas bocas me deram leite com algum remédio. Antes haviam me dado um suposto remédio para febre e, na inocência, acreditei e tomei o remédio. Dai me piquei para outra boca.
    Só pra resumi a ópera fui andando para um bairro distante. Estava confuso e não lembrava os telefones de casa, que mais usava. A memória havia pifado e só lembrava o número do celular da ex...
    Já estava na merda e sem dinheiro. Andava como se estivesse usando um escafandro. Pesava como se estivesse vestido com roupa de chumbo. Sentei em uma praça e comecei a tentar ordenar o pensamente. Resolvi pedir a uma "alma boa" que me fizesse uma ligação para a ex e o cara de primeira não aceitou. Depois voltei a ele e contei que era um DQ e que precisava de ajuda e que só conseguia lembrar um número. Então ele ligou, ela atendeu o o celular foi passado para mim. Dialogo curto: Eu e sua irmão não iremos lhe ajudar. Pegue um taxi e vá pra casa do seu pai. Isso como se meu pai fosse responsável pela minha insanidade. Disse que não e que gostaria que ela me ajudasse. Ela desligou.
    Voltei a insistir e ela só faltou me dizer: vá se foder ! não queria mesmo ajudar. Eu estava tão desorientado que nem sabia como ir para a casa do meu pai, nem onde ficava a casa da ex...
    Novo telefonema permitido pela alma caridosa. Em resposta ouvi: Não insista; não venha para aqui porque seu filho e você não se cruzam e eu não quero você aqui no apartamento do meu filho. O filho era só dela! Tudo bem que existem idiosincrasias, do guri querer me bater e chegar a ir além. Mas nessa vida de drogas ficamos sabendo de muita gente que usa e este filho usa cocaína e maconha há muitos anos. Um dia - quando de boa - ele me contou que o pessoal de SP, aonde ele mora, ia fumar maconha no apartamento dele, na frente da mãe, a santinha. Fiquei calado...
    Sentei no banco da praça meditando e procurando saber qual o caminho que iria tomar e fui, andando, como um ROBOCOP até outro local, mas fui na fé e nem queria saber das consequências. Queria fazer minha reparação, pedir desculpas e perdão pelo meu grave erro, admito.
    Lá chegando o portão estava fechado e tudo era eletrônico. Cerca eletrificada. Coisa desse meu filho que foi sindico desse edifício que tem um ar esquisito, embora bonitinho.
    Uma pessoa chegou na porta do prédio e eu me aproximei esperando a abertura do portão. Trocamos breves palavras e pronto, estava dentro do edificio. Fui até o apartamento e ela não estava, foi fofocar na casa da minha cunhada, que fica perto. Então me coloquei em posição estratégica à espera da chegada dela. Estava exausto. De repente ouvi um baque. Era a porta do elevador que é dos mais porretas: é ruidoso pra caramba. Como suspeitei era ela. Pegou a chave na bolsa e abriu a porta. Quando ia fechar empurrei a porta sem usar a força e, ela, quando me viu, deu um estrondoso grito. Dai eu dei risada eela me expulsava. Dizia que haveria briga com o filho hostil, mas eu não estava com medo de briga e nem queria saber de brigar. Fui entrando e disse que dali não saia, que estava exausto, que ela segurasse a onda e me deixasse ficar para dormir. Queria tomar um banho.  Estava sujo. Ela pegou o telefone e ligou para a cunhada e começou a contar o ocorrido, mas falava tão alto que parecia estar irradiando a conversa para todos os moradores do prédio...
    Bem, agora estou cansado e amanhã, se conseguir conexão, conto o resto e a razão do meu sumiço.
    sph
    Aproveito para agradecer os comentaristas e aos novos seguidores. Saudades dos blogues que acompanho

    quinta-feira, 7 de junho de 2012

    Narcóticos Anônimos, Meditação do Dia, quinta-feira, 07 de junho de 2012


    Alguém que acredite em mim 

    "Só por hoje, vou ter confiança em alguém de NA que acredite em mim e queira ajudar na minha recuperação." 
    Texto Básico, p. 111 

    Nem todos chegamos a NA largando automaticamente as drogas. Se continuarmos a voltar, encontramos em Narcóticos Anónimos o apoio que precisamos para nossa recuperação. Mantermo-nos limpos é fácil quando temos alguém que acredita em nós, mesmo quando nós não acreditamos em nós próprios. 

    Mesmo aquela pessoa que tem constantes recaídas, em NA tem, geralmente, um firme apoiador que está lá sempre, não importa o que aconteça. 

    É imperativo que encontremos aquela pessoa, ou aquele grupo de pessoas, que acredite em nós. 

    Quando lhes perguntamos se alguma vez iremos ficar limpos, sempre irão responder: "Sim, vai ficar limpo. Volte sempre que funciona." 

    Todos precisamos de alguém que acredite em nós, especialmente quando não conseguimos acreditar em nós próprios. Quando recaímos, minamos a nossa já abalada autoconfiança, por vezes de tal forma que começamos a sentirmo-nos totalmente desesperados. Nessas alturas precisamos do apoio dos nossos amigos leais de NA. Dizem-nos que esta poderá ser a nossa última recaída. Sabem por experiência que, se continuarmos a frequentar as reuniões, eventualmente iremos largar as drogas e nos manteremos limpos. É difícil, para muitos, acreditar em si mesmo. Mas quando alguém nos ama incondicionalmente, dando-nos o seu apoio, não importa quantas vezes tenhamos recaído, a recuperação em NA torna-se um pouco mais real para nós. 

    Só por hoje: Vou encontrar alguém que acredite em mim. Vou acreditar nessa pessoa.

    Setenta e sete anos de Alcoólicos Anônimos dia 10/06!


    Abaixo reproduzo texto de e-mail recebido da JUNAAB (Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos do Brasil), enquanto agradecemos o envio do mesmo:
     
    Olá Só Por Hoje!

    Certa manhã, a enfermeira do consultorio do Dr. Bob telefonou e disse: "Ele está aqui comigo. Meu marido e eu o recolhemos na estação de trem, às quatro horas da madrugada. Por favor, venham e vejam o que podem fazer".

    Trouxemos Bob para casa, o colocamos na cama e logo depois fizemos uma descoberta alarmante. Ele havia programado uma cirurgia que somente ele poderia fazer. Seria para três dias depois: ele simplesmente teria que fazer o trabalho sozinho e aqui estava ele, tremendo como uma folha. Poderiamos conseguir que ele ficasse sóbrio a tempo? Anne e eu nos revezamos, tentando pôr o "menino grande" em forma. Bem cedo, na manhã da cirurgia, ele estava quase sóbrio. Na noite anterior eu tinha dormido no quarto com ele. De minha cama eu via que ele estava acordado, mas ainda tremendo. Nunca me esquecerei da maneira como ele me olhou, quando disse: "Bill, eu vou acabar com isso". Pensei que ele estava se referindo à cirurgia. "Não", ele disse, "quero dizer essa coisa sobre a qual temos conversados".

    Anne e eu o conduzimos até o hospital às nove horas. Dei-lhe uma garrafa de cerveja para acalmar seus nervos e poder segurar o bisturi, e assim ele entrou. Voltamos para casa e nos sentamos, a fim de esperar. Depois de um certo tempo, que pareceu interminável, ele telefonou: tudo tinha saído bem, mas depois disso demorou muito para voltar para casa. Apesar da grande tensão em que se encontrava, deixou o hospital, entrou em seu carro e começou a visitar seus credores e outra pessoas a quem ele tinha ofendido com seu comportamento.

    Isso aconteceu no dia 10 de junho de 1935 e até a sua morte, quinze anos mais tarde, o Dr. Bob nunca mais tomou uma gota de álcool.

    Essa data 10 de junho de 1935 é considerada a data da fundação de Alcoólicos Anônimos.


    Este vitral representa a pintura a óleo originalmente chamada de "Viemos a acreditar". Mostra Bill W. e o Dr. Bob abordando o terceito membro de A.A. Bill D., ainda no hospital.

    A pintura apareceu pela primeira vez na edição de dezembro de 1955 da The Grapevine. Em 1973,  AAWS publicou um livro intitulado "Viemos a acreditar" e para evitar  a confusão a The Grapevine começou a se referiir à pintura como "o homem na cama."

    Este vitral que representa a pintura foi construido em 2001 e fica em Akron, cidade aonde nasceu Alcoólicos Anônimos.

    O aplauso estímula o ator a prosseguir desempenhando seu papel. Palavras de incentivo são estimulantes. Uma comida bem temperada estímula o apetite.  Determinados comportamentos podem resultar de estímulos externos. Se soubermos estimular alguém a crescer, a subir, de modo construtivo, obteremos ótimos resultados. Podemos associar à palavra estímulo uma outra muito importante que denominamos como "estima" .  Todos nós precisamos ter nossa auto-estima elevada, posta em um patamar que nos desperte o sentimento de importância que devemos ter por nós mesmo e pelos outros. Temos que cultivar e conferir um dado valor de respeito a nós e ao próximo. Precisamos ter e manter o devido  apreço e consideração por nós e pelos outros. 

    Bem motivados podemos melhorar muito nosso interesse sobre muitas coisas. Viver com entusiasmo é salutar. Motivados temos o interesse ativado. O ânimo deve estar em concordância com a vida, mantendo-nos resolutos e encorajados a enfrentar adversidades. O sentimento de vitória deve sempre estar acima do sentimento de derrota, ou de fracasso. Sabemos de tudo isso e muitas vezes somos levados ao oposto, exatamente pelas razões opostas. 

    Somos marcados pela incompreensão, pelo preconceito, pela indiferença, pelo desapreço e estas "coisas" não são poucas para nos abater o ânimo, desestimulando-nos e retirando de nós toda força motivacional para vencer e superar obstáculos. Em nossa volta sentimos muito com a descrença, com uma persistente animosidade, muitas vezes mascarada, marcada pelo rancor e má vontade, consciente, ou inconsciente. Aprendemos a usar ferramentas várias, capazes de nos manter a serenidade, com sobriedade, mas nem sempre as ferramentas são usadas de modo quase que automático. Seria preciso, para manter nosso equilibrio, em qualquer espécie de situação desconfortável, um preparo muito grande, o que é muito difícil e complicado. Infelizmente estamos muito mais propensos e próximos do desequílibrio. Ninguém é de ferro e não somos automatos, com um cérebro programado para responder positivamente aos maus estímulos advindos do meio exterior.  Estamos, muitas vezes, indefesos e vulneráveis. 

    O juízo que fazem de nós não é dos melhores, de modo que, precisamos de muita dedicação e continuo exércicio do tudo quanto aprendemos com os doze passos. Se tivermos a sorte de encontrarmos inteligências superiores, estaremos bem, mas, em se tratando da adicção, estamos muito mais próximo das inteligências inferiores. Estas são nocivas e prejudiciais ao nosso bem estar espiritual. Aprendemos muito sobre muitas coisas e, com o nosso auto-conhecimento, podemos enxergar muito mais além do que podem imaginar a maioria dos mortais. Sabemos reconhecer no próximo, nossos próprios defeitos e falta de virtudes. Isso incomoda, mas temos que saber levar em conta muitas variáveis e aprender a relevar. Não nascemos super heróis e nem queremos ser super em nada. Queremos ser gente, compreendidos como humanos, de carne e osso, pois temos uma sensibilidade mais aguçada e um limiar de excitabilidade oscilante. Por esta razão é que escrevo este pobre texto, vez que precisamos de equilibrio nas relações inter pessoais e, para que isto aconteça é necessário que este equílibrio seja reciproco.  Mas não podemos esperar nada de ninguém.

    Agora deixando o "nós"... (Só posso falar de mim!)

    Escrevo estas coisas com o estado de ânimo deplorável. Sinto-me abatido e deprimido. O meu universo não pode ser como quero, como desejo, preciso ser realista. Devo esperar o melhor de mim. Não posso me deixar levar por nada desse mundico. Mas é muito difícil soerguer a estima sozinho, ou com gente despreparada, e o que sinto e vejo é o despreparo ao meu redor. Vem aquela sensação de impotência, vez que só posso modificar a mim mesmo. O que posso fazer é tentar motivar pessoas que se imaginam informadas a melhor se informar sobre drogadição e co-dependência e, de sobra, buscar entender algumas poucas coisas que aprendi. Talvez ajude, se no meu universo houver gente com boa vontade, mente aberta e honestidade. Procedo minha auto-crítica e busco me preservar, mesmo sabendo que o chão é seco e áspero e o tempero azedo, o que me causa muita amargura. Contudo, prossigo em meu caminhar. 

    Escrevo estas linhas com muito esforço, como uma maneira de reagir e vencer esta apatia modorrenta que me consome. Como Deus nos ensina: "faça sua parte que lhe ajudarei". Bem, esforcei-me por fazer esta partilha compreensível. Espero que me reconheça quando acordar, ou em outro momento. 

    Que nunca falte humanidade em nossas vidas e humildade dentro de mim. 

    P.S.: Há vários dias sem postar, sem ler outros blogs, sem responder, ou agradecer comentários, acresço que sou grato a todos e que voltarei, o mais breve possível, a normalidade. 

    sexta-feira, 25 de maio de 2012

    ÉTICA E SOCIEDADE, Luiz Gonzaga de Sousa


    O QUE SE ENTENDE POR SENTIMENTO?

    O termo sentimento é uma palavra muito comum na sociedade humana, originando-se da própria condição em que as pessoas se encontram, como também outros sintomas que se apresentam naqueles que convivem com algo estranho, que martiriza, que machuca, e que torna a pessoa vulnerável a uma dor que não se sabe a origem. Assim, sentimento incorpora diversos conceitos, ou diversas caracterizações, ou diversos modos de se apresentar, pois algumas vezes indica algo bom, e prazeroso. Em muitos outros momentos aparece como coisa ruim, tal qual uma idéia latente se apresenta para exercitar uma maldade qualquer. É, neste sentido, que se buscam investigar as diversas definições de sentimento que muitas pessoas têm e denota os muitos tipos de manifestações que cada ser humano deixa transparecer para com todos aqueles que os cercam dentro do princípio de ignorância e desconhecimento.

    Detalhando um pouco mais os objetivos que se pretendem investigar com precisão, intenta-se: a) entender o que é sentimento, b) como se caracterizam os seus diversos tipos, c) a maneira como se manifestam nas pessoas, d) as condições como se processam, e) se o sentimento é bom ou é ruim, f) a técnica de como eliminar o sentimento ruim, e g) como alimentar o bom para que a vida do ser humano possa ser melhor. O sentimento é algo que está dentro de cada um, apresentando-se de forma que poucos entendem o seu real sentido, ao considerar que existe toda uma formação de sensações, de idéias, de objeto, e porque não dizer de piedade, que muitas pessoas possuem sobre as outras que sofrem os dissabores da vida física, quer dizer, os que pedem esmolas, os doentes, os pobres e algumas outras formas de desajuste social.

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