Blog dedicado aos adictos que não querem morrer nas garras da adicção e a todos aqueles que vivenciam e vivenciaram problemas relacionados com dependência química. É mais um espaço independente, aberto para codependentes, membros das irmandades A.A., ALA-NON, N.A. NAR-ANON, profissionais da área de saúde e outros grupos de auto-ajuda. É destinado a quem vive um dia de cada vez. Só Por Hoje é nosso lema!
terça-feira, 15 de junho de 2010
CODEPENDÊNCIA E A FAMÍLIA CODEPENDENTE
O presente trabalho tem como objetivo principal mostrar as relações que se estabelecem nas famílias que têm em seu seio pessoas portadoras de uso pesado de drogas ou de dependência química e sua influência no comportamento funcional da família.
Abaixo apresentamos algumas definições de codependência que retiramos de alguns livros especializados no assunto:
“Codependência é a necessidade imperiosa de controlar coisas, pessoas, circunstâncias, comportamentos e situações na expectativa de controlar suas próprias emoções”.
“Codependência é uma condição emocional, psicológica e comportamental que se desenvolve como resultado da prática e da exposição prolongada do indivíduo a regras opressivas, que impedem a expressão aberta de sentimentos e a discussão direta de problemas pessoais e interpessoais”.
“Codependência são comportamentos aprendidos de derrota ou defeitos de caráter que resultam numa diminuição da capacidade de iniciar relações afetivas ou participar dela".
Em nossa opinião “codependência é uma doença psicológica e comportamental que tem como característica principal de seus portadores, uma falta absoluta de identidade própria e de auto-estima”.
Em consultório, pais de filhos dependentes químicos se apresentam como se fossem os grandes culpados de que o filho enveredou pelos caminhos das drogas, e pretendem se redimir deste fato, fazendo de tudo que lhes é possível, na tentativa de recuperar o filho de antes do uso de drogas. Culpam-se mutuamente, lembram de coisas materiais que negaram ao filho e que poderiam ter influenciado na drogadição do rapaz, culpam a escola, os amigos e colegas do bairro ou do condomínio. Culpam as instituições e a polícia que não reduzem a oferta de drogas nas ruas da cidade, e, como o filho não pensa em deixar o uso de drogas, partem para uma tentativa de controle total e absoluto do filho.
Esta necessidade de controle impede que a pessoa que sofre de codependência perceba que sua capacidade de controle é muito pequena e limitada, levando-a a esforçar-se até de forma insana, com a finalidade de controlar o incontrolável, ou seja, o destino de uma outra pessoa. Da mesma forma, nega todas as evidências claras que estão ali em sua frente, e que poderá, no futuro próximo, vir a enfrentar um problema ainda maior que suas habilidades físicas, emocionais e espirituais lhe permitem.
A codependência aparece em situações vividas por famílias de alcoólicos, dependentes químicos afetados por uso de drogas pesadas, como: a cocaína, o crack, o LSD, as anfetaminas, a heroína, e até de remédios de farmácia (tranqüilizantes, estimulantes, xaropes, moderadores de apetite).
O uso compulsivo destas substâncias cria no usuário o que se chama de Dependência Química, provocando na pessoa dependente a desestruturação de sua personalidade e perda do contato com a realidade.
Existem outras situações que desenvolvem também comportamentos compulsivos nas pessoas, e entre estas destacamos: a compulsão sexual, o trabalho excessivo, o jogo, os gastos e compras descontrolados, o comer exagerado, os quais podem levar também as famílias dos portadores a desenvolverem codependência. Por outro lado, familiares de portadores de doenças mentais, como esquizofrenia, psicoses e transtorno borderline podem desenvolver codependência, como acontece com familiares de dependentes químicos.
Em todas as famílias nas quais há codependência instalada, principalmente no caso de usuários de drogas, o familiar problemático é um indivíduo amado obcecadamente, todos seus passos são conhecidos e vigiados pela família, principalmente pelo membro codependente, seus gostos, manias e preferências estimulados pela mãe, suas listas de comidas preferidas discutida com riqueza de detalhes. Todos os membros da família sofrem por ele, tentam controlá-lo, mas como ninguém da família é capaz de controlar nem mesmo a si próprio, imagine-se tentar controlar um indivíduo doente de uso de drogas.
Pode-se dizer que a codependência é uma condição emocional, psicológica e comportamental resultante do não atendimento das necessidades emocionais básicas das pessoas, fato que as torna insensíveis, e que termina por impedir tanto a expressão aberta dos seus sentimentos, como a discussão franca de seus problemas interpessoais. Esta possibilidade de discutir sobre o que está acontecendo no seio da família, não se dá nem mesmo entre os outros membros mais sãos, nem tampouco entre o pai e a mãe do indivíduo problemático.
O codependente é um sofredor eterno, um depressivo, possui baixa auto-estima, uma forte compulsão a tentar ajudar pessoas, mas, ao mesmo tempo, também deseja controlá-las. Além do mais apresenta uma predisposição básica ao sofrimento. Acredita poder resgatar todos problemas que assolam a humanidade, e quando cai em si, percebe que é totalmente incapaz de ser feliz. Com o tempo se tornam também pessoas problemáticas para toda a família.
Devido à sua maneira de agir, para o codependente não há a exigência da troca amar e ser amado, somente ele quer oferecer amor, não necessita haver retorno, e como conseqüência aparece o seu isolamento de todos os outros membros da família. Muitos codependentes acreditam achar refúgio em suas carreiras profissionais, com a finalidade de protegerem seus sentimentos disfuncionais, outros acreditam achar seus mundos em festas, encontros sociais, práticas esportivas, e outros locais onde podem receber, ao menos, atenção de outros seres humanos. Seus outros filhos não dependentes químicos se queixam que foram esquecidos pelos pais codependentes e muitas vezes, passam a se drogar para assim, receberem as mesmas atenções que o irmão problemático.
Alguns outros codependentes enveredam por envolvimentos amorosos complicados e tumultuosos, com pessoas difíceis e distantes, mas sempre por detrás destes amores, estão seus reais conflitos. Os amores escolhidos são sempre retratos fiéis de seus conflitos internos, ou seja, a mulher que sofre de codependência de seu pai alcoolista, procura seu amor num homem mais velho, amante da boa vida e, em muitas vezes, também alcoolista. Ela buscou em seu amor um modelo igual ao de seu pai, não seria porque conhece, ou acredita conhecer como lidar com o modelo do pai alcoolista?
Em casamentos nos quais se desenvolveu um problema compulsivo, um dos cônjuges pode se tornar obsessivo pela idéia de não ter feito as coisas direito, e na tentativa de superar suas culpas e medo, vai aumentando sua obsessão, esforçando-se mais e mais, naquilo que deu errado. Passa a querer controlar a vida do outro, e a frustração que sente, pode até acabar com sua alegria de vida. O codependente experimenta um constante fracasso, pois todas suas tentativas de controle não dão certo, isto faz com que haja uma realimentação de sua culpa e uma nova tentativa de controle, seguida de um novo fracasso, e sua vida parece estar para sempre embaraçada em amarras que não consegue cortar.
A convivência da família com um dependente químico é cruel para toda a família, pois seus comportamentos inesperados, indiferentes, desonestos, desenvolvem em todos ao seu redor uma dependência emocional que equivale à dependência química. Todos vivem em função das atitudes do dependente químico, sendo esta situação estranha e paradoxal.
Algumas pessoas acreditam que os codependentes sejam tão insanos como os usuários de drogas ou álcool, enquanto estes usam drogas para saírem do mundo real que os afoga e os oprime, os codependentes suportam suas dores sem os efeitos anestésicos da droga ou do álcool. Talvez se possa dizer, sem medo de errar, que a droga dos codependentes é o filho drogado.
Negar a existência da dependência química do familiar é uma maneira usual de fuga do problema, fato que serve para aliviar a ansiedade que ela provoca. Esta negação aparece em toda família disfuncional, e de uma forma ou de outra, todos seus membros negam os fatos que são tão evidentes para os que a observam do exterior. Se alguém pensar em mostrar para eles a realidade que todos estão vendo e sentindo, ou mesmo simplesmente sugerir que algo precisa ser feito, sofrerá severas críticas do núcleo doente da família, e correrá até o risco de ser posto de lado e marginalizado, pois se tornou uma ameaça à suposta integridade da família.
Principais características dos codependentes
Abaixo destacamos diversas características das pessoas codependentes:
julga-se responsável por outra pessoa, por seus sentimentos, pensamentos, ações, escolhas e vontades e sente-se compelido a ajudar os outros.
culpa aos outros pela codependência que vive.
quase sempre é proveniente de família problemática, reprimida ou não funcional, mas nega veementemente que sua família seja problemática.
tende a se sentir e a se mostrar sempre como vítima, é eternamente insatisfeito com tudo que faz.
gosta de provar que é bom para com os outros.
são pessoas rígidas e aparentemente controladas, sentem-se ansiosos em relação a problemas e pessoas, ficam muitas vezes frustrados e furiosos.
tentam controlar pessoas por meio de culpa, ameaças, conselhos e manipulações, ignoram os problemas que vivem ou fingem que os mesmos não estão acontecendo.
não buscam a felicidade, satisfação ou tranqüilidade com sua própria vida, gastam dinheiro de forma compulsiva, mentem para si mesmo.
buscam desesperadamente amor e aprovação, procuram amor em quem é incapaz de amar, continuam mantendo relacionamentos que já não funcionam.
mente para se proteger e encobrir aqueles a quem ama. Reclama, culpa, torna-se intolerante, sente-se apavorado, ferido e furioso, mas não faz nada para mudar o que sente.
mantém relações sexuais mesmo quando não deseja. Perdem o interesse pelo sexo. Em muitos casos mantêm complicados romances extraconjugais.
é um grande deprimido, ansioso, introvertido, retraído e isolado. Pensa que morrendo ou se suicidando, poria fim à sua angústia
Possui amplas características de se tornar um dia um dependente químico de álcool e drogas.
Mas há solução para tudo que foi dito até agora? Há atitudes a serem tomadas que abrandariam a fome de controle dos codependentes? Como se deve lidar com o problema das drogas que afeta parcela significativa da população do mundo em que vivemos?
O tratamento da codependência
O primeiro passo a ser tomado é a aceitação de que ele, o codependente, não é tão forte como pretende ser, ou como os outros gostariam que fosse. Deve deixar que a realidade atue e lhe mostre caminhos, e a partir deste fato, não precisará mais fugir daquilo que está ali na sua frente para ser visto e vivido. Quando conseguir olhar para dentro de si, refletir, enxergar e aceitar sua falta de culpa do que aconteceu ao seu ente querido e aprender que não pode controlar a vida de outra pessoa. Ao atingir este estágio, descobrirá que os fatos do cotidiano que lhe surpreendem, mesmo de maneira desagradável, servem para engrandecer sua pessoa, através do aprendizado que será útil em situações posterior. A idéia básica do processo é crescer à custa da experiência adquirida
Um segundo passo é filiar-se a algum grupo de apoio, local onde interagirá com pessoas que sofrem dos mesmos males que ele, mas que estão conseguindo mudar o rumo de suas vidas, graças ao apoio que recebem. Pais de dependentes químicos que freqüentam grupos de apoio têm muito mais possibilidades de verem seu problema resolvido que pais que acreditam poder resolver seus problemas sozinhos.
Um terceiro passo é procurar terapia com profissionais do ramo, e que tenham experiência de como cuidar de pessoas codependentes. O profissional escolhido reunirá os membros significativos da família do dependente químico e trabalhará as soluções viáveis do problema que todos enfrentam, e cobrará dos membros codependentes a aceitação do estado vigente na família, e as mudanças que precisam ser feitas.
Um quarto passo a ser tomado por pessoas codependentes que necessitem tratamento contra depressão, ansiedade, síndrome do pânico é procurar um bom psiquiatra e se medicar, tentando voltar a ter a mesma capacidade anterior aos fatos que geraram sua codependência.
Quando o codependente para com suas manipulações sobre o dependente químico, este também nota claramente a modificação de como seu problema está sendo encarado pela família, e começa a sentir-se responsável por sua vida, mas ainda continua com o direito de escolher se deve continuar nas drogas ou não. Começa a ver o alto preço que paga para se manter fora da realidade, e do esforço que todos estão fazendo para auxiliá-lo.
A tarefa do cônjuge e dos pais não é modificar ou endireitar a vida do membro da família que está fora de rumo, mas sim cuidar de sua própria felicidade, melhorá-la, lutar para estar bem consigo mesmo e, assim, estar apto a poder ajudar quem necessita de sua ajuda. Somente quem tira alguém das drogas é o próprio dependente químico, pois é com um balanço de perdas que teve e está tendo, que chegará à conclusão que tem de mudar. Ao mesmo tempo verá que perdeu o controle de sua vida para as drogas; que perdeu a sua condição de ser humano, tornando-se um quase boneco; perdeu a liberdade, aquela pela qual sempre lutou, tornando-se hoje em dia um escravo das drogas.
Erich Fromm , A Linguagem Esquecida
"Os sonhos do homem antigo e moderno são escritos na mesma linguagem que os mitos cujos autores viveram no amanhecer da história...Creio que a linguagem simbólica é a única linguagem estrangeira que cada um de nós deve aprender. Sua compreensão nos põe em contato com uma das mais significativas fontes de sabedoria...Na verdade, tanto os sonhos como os mitos são importantes comunicações de nós mesmos para nós mesmos"
Bicho de Sete Cabeças
Bicho de Sete Cabeças
João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).
Tentando resgatar nossos jovens
O início do filme nos traz a imagem de alguns de nossos jovens e, no tocante aos professores, a de alunos que trazem problemas e geram enormes dificuldades para o exercício de nossa função. Há, inclusive, uma sintomática sequência que se desenvolve numa sala de aula, onde o personagem central, Neto (vivido por Rodrigo Santoro, surpreendente e bastante a vontade no papel) está totalmente desvinculado daquilo que está acontecendo na sala de aula, literalmente "no mundo da lua", desprezando solenemente a presença do professor.
Já se trata de um bom início de discussões, afinal de contas, como devemos agir em relação a esses garotos e garotas que, evidentemente, "embarcaram numa viagem sem volta" e que estão em nossas aulas "matando o tempo"? O que fazer quando tivermos indícios muito fortes de que algum jovem, entre aqueles com os quais estamos trabalhando, está usando drogas? De que forma devemos abordar a questão dos tóxicos entre nossos alunos? Como encaminhar uma discussão com os pais desses dependentes? O álcool e a maconha, não são drogas?
Outras questões importantes que podemos inferir a partir do filme referem-se a própria conduta da escola no que se refere a forma como as aulas são conduzidas, seus métodos, a comunicação e sua efetivação dentro de uma classe, os recursos que estão sendo utilizados, o diálogo entre os professores e os alunos e entre a escola e os pais e, por aí vai; afinal, temos uma parcela de responsabilidade se pensarmos que, enquanto educadores, devemos fazer com que nossos alunos aprendam nossos conteúdos e, também, assumam responsabilidades e tenham posturas definidas quanto a vida, permitindo que eles tenham condições de evitar as armadilhas do cotidiano, entre as quais, a droga se inclui.
É perceptível, nesse aspecto, que não estamos cumprindo com nossos compromissos de forma plena. Temos nos preocupado muito com os conteúdos e pouco com a formação de conceitos seguros de cidadania, ética e responsabilidade social. O filme da diretora Laís Bodanzky nos dá uma alfinetada que deve doer no fundo da alma, que deve servir para abrir nossos olhos, que deve nos mobilizar em direção a práticas que nos permitam auxiliar e resgatar nossos jovens dos caminhos da droga.
Voltemos ao filme. Neto é um jovem estudante que, como qualquer pessoa dessa faixa etária (não generalizemos, há muitos garotos que não medem os riscos e entram em verdadeiras "frias", mas, há outros que assumem compromissos, investem numa vida saudável, estudam e respeitam os pais), arrisca-se de forma irresponsável em atividades como pichações, viajar com a "galera" para o litoral sem o consentimento dos pais e sem nem ao menos informar aonde está, "transar" sem camisinha e sem conhecer a parceira ou, ainda pior, se envolver com drogas.
Proveniente de uma família de classe média baixa, Neto tem pais esforçados porém, pouco informados e, sujeitos as opiniões alheias. Quando descobre em que situações seu filho se meteu, especialmente, ao encontrar um cigarro de maconha na roupa do rapaz, o pai (vivido pelo experiente Othon Bastos) decide-se pela internação imediata do jovem num sanatório.
Nessa instituição, teoricamente uma das melhores disponíveis na cidade onde se passa a trama, Neto é submetido a situações absurdas como por exemplo, a tomar medicamentos sem qualquer avaliação prévia pelos médicos responsáveis ou ainda, é submetido a choques e ao convívio com doentes mentais em estágios avançados de enfermidade.
Seus apelos para que os pais o tirem dali são encarados como táticas de um viciado que pagaria qualquer preço para retornar ao convívio com as drogas, o que só faz com que se prolongue sua internação. Quando consegue sair, passa a conviver com o preconceito dos outros e tem dificuldades de readaptação que o levam a incorrer em novos erros e descaminhos, levando-o a nova internação Como escapar desse vai e vem? Como superar esse círculo vicioso? O que nós podemos fazer (pais, professores, sociedade em geral)?
Sensibilidade é uma das palavras essenciais nessa relação delicada. Compreensão e diálogo também fazem parte do caminho da recuperação. É ver para crer!
Ficha Técnica
Bicho de Sete Cabeças
País/Ano de produção: Brasil, 2000
Duração/Gênero: 74 min., drama
Distribuição: Columbia
Direção de Laís Bodanzky
Elenco: Rodrigo Santoro, Othon Bastos, Cássia Kiss, Jairo Mattos.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
O que são profetas e oráculos, Paulo Ghiraldelli Jr.
Portal Brasileiro da Filosofia
O que são profetas e oráculos
Proto-história da verdade
Profetas e oráculos: a verdade como descoberta ou como fabricada
Oráculos lidam com a verdade de um modo diferente daquele dos profetas. Profecia é uma coisa, a verdade do oráculo é outra. Os profetas explicitam uma verdade que será apontada. Ao ouvinte, cabe não interpretação, mas reconhecimento da verdade quando ela acontecer. Pode-se anunciar a vinda de um salvador e, então, aguardar o momento de reconhecer ou não o salvador quando ele surgir. O oráculo não produz algo para ser reconhecido, mas interpretado. Ele diz uma verdade que permite interpretação e, mais que isso, alteração pelos que ficam sabendo da verdade, que podem então tentar controlar o destino.
Os que escutam o profeta sabem que o que ele disse ocorrerá. As disputas se dão na forma do reconhecimento. Uns podem reconhecer em um determinado evento ou pessoa o que foi profetizado e outros podem não reconhecer e, então, fazem nascer a disputa sobre a profecia. É isso que difere cristãos de judeus. A profecia sobre a vinda de um Messias é a questão. Cristãos apontam Jesus. Judeus não reconhecem Jesus como o Messias.
Os que acompanham o Oráculo sabem que o que ele disse precisa ser interpretado corretamente. Tratando-se de uma desgraça, eles tentarão evitar, mas se for algo bom buscarão tirar de cena os empecilhos. Todavia, a fala oracular, por mais simples que seja, pode ser um tipo de xarada que implica na interpretação correta. Em geral, nas histórias de oráculos, o que é dito ocorre, mas de um modo que não se esperava. Aliás, nunca se sabe se realmente ocorre, pois depois de determinado desfecho, pode-se interpretar o que ocorreu como sendo aquilo que aconteceu o real aviso oracular. É isso que se passa com Sócrates.
Sócrates escuta o recado do Oráculo dizendo que ele é sábio e, então, parte para refutá-lo, procurando outros mais sábios do que ele. Ao final, ele interpreta que aquilo que o oráculo queria dizer não era o que ele concluiu inicialmente. Inicialmente ele interpreta que ele não sabia, mas, ao menos, sabia que não sabia, enquanto que os outros acreditavam saber muitas coisas que não sabiam. Mas, já bem mais velho, Sócrates diz que a interpretação correta era a de ter filosofado como filosofou, fazendo a cidade inteira se questionar e, assim, sendo a Mosca de Atenas, ter trabalhado no sentido de conter o orgulho excessivo dos cidadãos. Ele interpreta, ao final da vida, que era isso que o Oráculo de Delfos queria dele. Assim, o que o oráculo disse se realizou, foi uma verdade, mas não do modo que Sócrates inicialmente pensou. O oráculo firmou a verdade de Sócrates como o mais sábio ao final, quando ele viu que suas perguntas não tinham resposta, mas que ser sábio não era respondê-las e, sim, fazer as indagações. Por isso, para Sócrates, ao final da vida, a frase com a qual ele fica é “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”. Quem pensa assim, então, é sábio.
A verdade da profecia coloca o povo que dela participa, ouvindo o profeta, na arte de um trabalho intelectual que é o reconhecimento. A verdade oracular coloca os que dela participam na arte da interpretação, um trabalho que, não raro, antes fabrica a verdade – posta na interpretação final – que a descobre. Nos dois casos, o trabalho não é exclusivamente cognitivo. A verdade do profeta é encontrada por reconhecimento, mas como reconhecer algo que nunca foi visto antes? Há uma margem de erro, portanto, nessa atividade. A verdade do oráculo é interpretada, mas não em uma atividade hermenêutica, e sim por meio da própria prática de lidar com o que o oráculo falou, ou seja, tentando refutá-lo ou então tentando evitar que ocorra ou tentando fazer com que ocorra.
No limite, a verdade da profecia é uma verdade encontrada e a verdade do oráculo é uma verdade fabricada. Ultrapassada a fase de profecias e oráculos, quando se instaura a filosofia, todo o passado retorna então crivado pela razão. Instaura-se a discussão sobre se a verdade é descoberta ou fabricada. Mas, nesse caso, sobre outras bases. Começa-se a usar a lógica, o discurso consistente. Termina a proto-história da verdade. Inicia-se a história da verdade.
Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ
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Proto-história da verdade
Profetas e oráculos: a verdade como descoberta ou como fabricada
Oráculos lidam com a verdade de um modo diferente daquele dos profetas. Profecia é uma coisa, a verdade do oráculo é outra. Os profetas explicitam uma verdade que será apontada. Ao ouvinte, cabe não interpretação, mas reconhecimento da verdade quando ela acontecer. Pode-se anunciar a vinda de um salvador e, então, aguardar o momento de reconhecer ou não o salvador quando ele surgir. O oráculo não produz algo para ser reconhecido, mas interpretado. Ele diz uma verdade que permite interpretação e, mais que isso, alteração pelos que ficam sabendo da verdade, que podem então tentar controlar o destino.
Os que escutam o profeta sabem que o que ele disse ocorrerá. As disputas se dão na forma do reconhecimento. Uns podem reconhecer em um determinado evento ou pessoa o que foi profetizado e outros podem não reconhecer e, então, fazem nascer a disputa sobre a profecia. É isso que difere cristãos de judeus. A profecia sobre a vinda de um Messias é a questão. Cristãos apontam Jesus. Judeus não reconhecem Jesus como o Messias.
Os que acompanham o Oráculo sabem que o que ele disse precisa ser interpretado corretamente. Tratando-se de uma desgraça, eles tentarão evitar, mas se for algo bom buscarão tirar de cena os empecilhos. Todavia, a fala oracular, por mais simples que seja, pode ser um tipo de xarada que implica na interpretação correta. Em geral, nas histórias de oráculos, o que é dito ocorre, mas de um modo que não se esperava. Aliás, nunca se sabe se realmente ocorre, pois depois de determinado desfecho, pode-se interpretar o que ocorreu como sendo aquilo que aconteceu o real aviso oracular. É isso que se passa com Sócrates.
Sócrates escuta o recado do Oráculo dizendo que ele é sábio e, então, parte para refutá-lo, procurando outros mais sábios do que ele. Ao final, ele interpreta que aquilo que o oráculo queria dizer não era o que ele concluiu inicialmente. Inicialmente ele interpreta que ele não sabia, mas, ao menos, sabia que não sabia, enquanto que os outros acreditavam saber muitas coisas que não sabiam. Mas, já bem mais velho, Sócrates diz que a interpretação correta era a de ter filosofado como filosofou, fazendo a cidade inteira se questionar e, assim, sendo a Mosca de Atenas, ter trabalhado no sentido de conter o orgulho excessivo dos cidadãos. Ele interpreta, ao final da vida, que era isso que o Oráculo de Delfos queria dele. Assim, o que o oráculo disse se realizou, foi uma verdade, mas não do modo que Sócrates inicialmente pensou. O oráculo firmou a verdade de Sócrates como o mais sábio ao final, quando ele viu que suas perguntas não tinham resposta, mas que ser sábio não era respondê-las e, sim, fazer as indagações. Por isso, para Sócrates, ao final da vida, a frase com a qual ele fica é “uma vida não examinada não vale a pena ser vivida”. Quem pensa assim, então, é sábio.
A verdade da profecia coloca o povo que dela participa, ouvindo o profeta, na arte de um trabalho intelectual que é o reconhecimento. A verdade oracular coloca os que dela participam na arte da interpretação, um trabalho que, não raro, antes fabrica a verdade – posta na interpretação final – que a descobre. Nos dois casos, o trabalho não é exclusivamente cognitivo. A verdade do profeta é encontrada por reconhecimento, mas como reconhecer algo que nunca foi visto antes? Há uma margem de erro, portanto, nessa atividade. A verdade do oráculo é interpretada, mas não em uma atividade hermenêutica, e sim por meio da própria prática de lidar com o que o oráculo falou, ou seja, tentando refutá-lo ou então tentando evitar que ocorra ou tentando fazer com que ocorra.
No limite, a verdade da profecia é uma verdade encontrada e a verdade do oráculo é uma verdade fabricada. Ultrapassada a fase de profecias e oráculos, quando se instaura a filosofia, todo o passado retorna então crivado pela razão. Instaura-se a discussão sobre se a verdade é descoberta ou fabricada. Mas, nesse caso, sobre outras bases. Começa-se a usar a lógica, o discurso consistente. Termina a proto-história da verdade. Inicia-se a história da verdade.
Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo, escritor e professor da UFRRJ
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Bicho de estimação
Algumas famílias tratam seus adictos de modo bastante peculiar, como se eles fossem bichinhos de estimação. Coloca-nos em uma gaiola, dão-lhe milho alpiste e água e querem ouvir o canto que este cativo poderá emitir.
Um adicto também pode vir a ser um venerável bichinho nos zoológicos particulares de determinadas famílias.
Presos, para o deleite familiar, esquecem que os animais também procriam, acasalam, gostam da liberdade e do seu habitat natural. Essa relação entre o adicto e o co-adicto é bastante interessante, mas os co-dependentes nunca enxergam o adicto como um ser humano, mas como um cachorrinho de estimação, com coleira e guia, por vezes até com focinheira.
Aprisionam o pobre passarinho tirando-lhe a fêmea e a possibilidade de criar um ninho. Como é cruel não parar pra pensar, não refletir, não se imaginar no lugar do próximo. Ser bom e colocar alguém numa gaiola e passar a dar-lhe o alpiste e água, pura e simplesmente. A mentalidade humana é muito gozada no que concerne aos cuidados dedicado a quem padece de tantos outros males que não apenas o da adicção. O verbo viver não pode ser conjugado pelo adicto no sentido lato da palavra, nem no presente do indicativo. Um dia o passarinho cansa, aproveita que a gaiola se abriu e foge para sempre, pois seu destino é a amplidão e jamais a prisão.
Quando a sua vida não estiver mais em suas mãos e você se sentir como um bicho de estimação, talvez seja o momento de você reunir os "donos da sua vida" para lhes revelar esta usurpação, de modo sereno e, se não lhe compreenderem, resta-lhe assumir sua vida, com sobriedade, enquanto busca refazer tudo quanto jogou fora. Chega o momento em que não resta outra saída senão a da independência com responsabilidade. Melhor viver sozinho que arrodeado de donos e de problemas.
Um adicto também pode vir a ser um venerável bichinho nos zoológicos particulares de determinadas famílias.
Presos, para o deleite familiar, esquecem que os animais também procriam, acasalam, gostam da liberdade e do seu habitat natural. Essa relação entre o adicto e o co-adicto é bastante interessante, mas os co-dependentes nunca enxergam o adicto como um ser humano, mas como um cachorrinho de estimação, com coleira e guia, por vezes até com focinheira.
Aprisionam o pobre passarinho tirando-lhe a fêmea e a possibilidade de criar um ninho. Como é cruel não parar pra pensar, não refletir, não se imaginar no lugar do próximo. Ser bom e colocar alguém numa gaiola e passar a dar-lhe o alpiste e água, pura e simplesmente. A mentalidade humana é muito gozada no que concerne aos cuidados dedicado a quem padece de tantos outros males que não apenas o da adicção. O verbo viver não pode ser conjugado pelo adicto no sentido lato da palavra, nem no presente do indicativo. Um dia o passarinho cansa, aproveita que a gaiola se abriu e foge para sempre, pois seu destino é a amplidão e jamais a prisão.
Quando a sua vida não estiver mais em suas mãos e você se sentir como um bicho de estimação, talvez seja o momento de você reunir os "donos da sua vida" para lhes revelar esta usurpação, de modo sereno e, se não lhe compreenderem, resta-lhe assumir sua vida, com sobriedade, enquanto busca refazer tudo quanto jogou fora. Chega o momento em que não resta outra saída senão a da independência com responsabilidade. Melhor viver sozinho que arrodeado de donos e de problemas.
sábado, 5 de junho de 2010
Agressão contra Adictos é crime
Escreva à Câmara dos Deputados Federais e aos senhores senadores, ou aos seus representantes
O adicto passivo é uma pessoa que se esforça para se livrar do pesadelo do passado. É alguém que deseja voltar a viver com sobriedade em meio aos sóbrios. Ele pode escapar de tudo quanto viveu na ativa, mas não escapará da malevolência dos recalcados, das farpas dos ressentidos, das maldades dos invejosos, do rancor dos despeitados e, por mais puro que seja o adicto, ele jamais escapará da calúnia, da injúria e da difamação.Nossa cultura é plural e tem um mundo de pessoas com graus de conhecimentos diferenciados. Os mais informados, os menos informados e os desinformados, ignorantes e desinteressados...
Se não tiverermos uma visão humana superior, referente à questão de saúde que envolve a questão das drogas, enveredaremos pelo caminho do desprezo, da indiferença, do ódio e da brutalidade, diante de um adicto em recuperação e de um adicto na ativa. É preciso distinguir o adicto do traficante.
Quando falamos adicção, falamos em drogas também e não excluímos o álcool, que muita gente imagina não ser uma droga.Estas pessoas, geralmente mesquinhas, movidas que são pelo que existe de mais primitivo, dentro delas, vez em quando proferem palavras indesejáveis e que só causam mal-estar à saúde de quem se acha em recuperação. Podem, com poucas palavras mexer na "tecla sensível" de um adicto levando-o ao retrocesso, em plena recuperação.
Nosso código penal não tipifica, claramente, os crimes de agressões, de natureza estigmatizantes, que afetam e vitimam os adictos.
Caímos sempre no terreno da injúria, da calúnia e da difamação, que o adicto, conformado e resignado, jamais utilizará por achar, subjetivamente, que seu passado o condena. A cultura os ensina a aceitar tudo calado, sem ter como se defender e, daí, muitas vezes, pode tornar-se agressivo, o que não é bom para ninguém.
Diante desta realidade resolvi escrever este texto pensando em encaminhar aos senhores legisladores, desta nação, um pedido para que criem um dispositivo legal para encaixar no código penal, que agredir um adicto, com palavras que traduzam, de modo pejorativo, estigmas oriundos de uma cultura, marcadamente preconceituosa e pela falta de equilíbrio e bom senso, é crime punível.
Assim, o adicto não ficará mais indefeso e poderá prosseguir em sua recuperação, sossegado e de cabeça erguida.
Medidas que permitam ao adicto o direito de acionar juridicamente seus agressores e detratores, são imperativas, detendo, desta forma, o crescimento da ignorância e da má-fé, ainda reinante em nossa cultura de rotulações e estigmas.
Caímos sempre no terreno da injúria, da calúnia e da difamação, que o adicto, conformado e resignado, jamais utilizará por achar, subjetivamente, que seu passado o condena. A cultura os ensina a aceitar tudo calado, sem ter como se defender e, daí, muitas vezes, pode tornar-se agressivo, o que não é bom para ninguém.
Diante desta realidade resolvi escrever este texto pensando em encaminhar aos senhores legisladores, desta nação, um pedido para que criem um dispositivo legal para encaixar no código penal, que agredir um adicto, com palavras que traduzam, de modo pejorativo, estigmas oriundos de uma cultura, marcadamente preconceituosa e pela falta de equilíbrio e bom senso, é crime punível.
Assim, o adicto não ficará mais indefeso e poderá prosseguir em sua recuperação, sossegado e de cabeça erguida.
Medidas que permitam ao adicto o direito de acionar juridicamente seus agressores e detratores, são imperativas, detendo, desta forma, o crescimento da ignorância e da má-fé, ainda reinante em nossa cultura de rotulações e estigmas.
Isto é importante para que ninguém mais olhe com desdém as agressões sofridas pelos que buscam recuperação, que não é fácil, mas é possível, contribuindo, inclusive, diferenciar um adicto de um traficante.
A rejeição social de um adicto, também deveria ser alvo de punição, como, por exemplo, obrigar o infrator a frequentar uma escola de saúde mental, até que o mesmo adquira uma nova consciência do erro praticado, pactuando, posteriormente, com a justiça, que não mais reincidirá em tal prática.
Palavras como: alcoólatra, cachaceiro, maconheiro, viciado, drogado, bandido, sacizeiro, descarado, crack-maniaco, cocainómano e outras tantas expressões de caráter pejorativo e vulgar, quando proferidas contra a moral de um adicto, com o intuito de abate-lo, promovendo danos irreversíveis, deveriam - mediante ser punidas, mediante emprego do código penal. Coibir ações nefastas com penalidades que vão desde a prestação de serviços comunitários, frequentar aulas sobre saúde mental, até o pagamento de indenizações, a quem vier sofrer tal tipo de agressão, representam um passo significativo para a saúde social.
Tipificar como crime de agressão, o emprego de rótulos e palavras estigmatizantes, contra os adictos é importante para não possibilitar arguições de defesa que culminem com absolvições, ou com a costumeira inação de parte de quem sofre tais agressões.
O cidadão civilizado, os que olham com generosidade e carinho esta questão, tão complexa, sabe o peso que as palavras têm quando servem de insulto e, toda forma de insulto, deve ser penalizada, para que possamos, todos, conviver em uma sociedade mais saudável.
Caracterizar como crime as agressões verbais contra adictos, como um crime, facilitará o tratamento de uma infinidade de portadores da adicção. Tal medida, saneadora, é importantíssima para vivermos, realmente, um processo civilizatório condigno e salutar.
Está ai uma ideia que poderá ser desenvolvida para melhor enquandrar esta modalidade de crime contra a saúde física, mental e espiritual, que nterfere na recuperação dos adictos, quando regressam ao mundo da sobriedade, seria uma demonstração que muito ajudaria o adicto em seu processo de soerguimento social. Afinal, é bastante desconfortável alguém regressar ao mundo da sobriedade e, no mundo dos sóbrios, ser agredido por um pretenso sóbrio.
Não precisamos parecer sóbrios, temos que ser sóbrios. Nada de fazer de conta, não é mesmo?
5 MESES LIMPO ! uhuhu
Sinto-me bem. Sem desejo consciente de usar álcool nem adicionar nada a bebida. Cada vez mais busco fortalecer a minha crença, a minha certeza de que o caminho da sobriedade e da lucidez estão me possibilitando uma qualidade de vida melhor. Estou certo de que através das minhas atitudes silenciarei os descrentes. Buscarei revelar àqueles(as) que não confiaram em mim, que sou capaz, que posso ser melhor do que era antes, que posso suplantar barreiras e vencer obstáculos que se interponham em meu caminho. Só por hoje me sinto um vencedor e este será o meu recado àqueles que imaginaram que o meu caminho não tinha retorno. Só por hoje irei revelar que creio em Deus acima de todas as coisas, e, na forma como o concebo, ele é por mim, está dentro de mim, está na minha fé, na minha resolução e ele é a minha fortaleza. Aliado ao meu PSV, tenho um PSH poderoso. Entreguei minhas vontades e minha vida a eles e neles confio. Busco na oração da serenidade minha paz interior. Não sou um ser resignado, ou conformado, apenas sei o que posso e o que não posso, além de saber distinguir uma coisa da outra. Evitarei sempre a cada amanhecer o primeiro gole, a primeira dose. Sinto-me forte e esta minha fortaleza nasce do meu PSV e do meu PSH, a quem agradeço todos os dias. Vencerei, vencerei e vencerei e nada vai me fazer ser aquilo que nunca desejei ser. Sinto-me cada vez mais humano e mais livre. Meu horizonte é vasto e tenho buscado demonstrar isso. Venho obtendo vitórias a cada dia e não espero o aplauso de ninguém, eu mesmo me aplaudo, pois bem sei que o meu destino aqui na terra é ser feliz, amando a mim mesmo para que eu possa amar ao próximo. Busco o auto-conhecimento, procuro evitar pessoas da ativa, apesar de entender que elas são portadoras de uma doença, mas devo me proteger. Tenho evitado lugares e seguido toda aprendizagem adiquirida. Não sei tudo, mas estou aprendendo tudo o que me ajuda a crescer e a desenvolver minha capacidade de permanecer sóbrio, um dia de cada vez. Festejo o dia de hoje com um copo de refrigerante e dou viva a vida, porque viver é bom. Não farei festa alguma, mas intimamente me sinto confortável, afinal estou a 5 meses limpo e, dentro de mim, mora a felicidade pela passagem deste novo dia. Só por hoje continuarei minha recuperação, produzindo frutos e buscando enviar a minha mensagem a quem dela precisar. Abraço todos os que conviveram comigo e desejo a todos infinitas horas de sobriedade. Mais será revelado, SPH!
segunda-feira, 31 de maio de 2010
A PAIXÃO NA ADICÇÃO - Tese de Vanuza Monteiro Campos Postigo
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Psicologia
Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica
A PAIXÃO NA ADICÇÃO: UM ESTUDO SOBRE
PASSIVIDADE PULSIONAL E VIOLÊNCIA
PSÍQUICA
Trecho extraído da tese, de autoria, da Dra. Vanuza Monteiro Campos Postigo:
A adicção: terminologia e definição
O termo “adicção” provém do latim addictu, dos tempos da República Romana. Adicctu, particípio passado do verbo addico, addicere, significa “escravo por dívidas”, denomina o homem que, para pagar uma dívida, se convertia em escravo por não dispor de outros recursos para cumprir o compromisso contraído (GURFINKEL, 1995, p. 109).
No Dicionário Aurélio adicção (1996), significa "adicto" – que é na verdade um adjetivo – e diz respeito a um sujeito: 1.Afeiçoado, dedicado, apegado. 2. Adjunto, adstrito, dependente; ou então 3. Em medicina é quem não consegue abandonar um hábito nocivo, mormente de álcool e drogas, por motivos fisiológicos ou psicológicos
.
Daí viria a expressão de indivíduo adicto. Joyce McDougall é quem vai cunhar a palavra na língua francesa, pois os termos addict e addiction não existiam em francês e ela os formulou para fugir da palavra 30 “toxicomanie” (MCDOUGALL, 1997, p. 200). McDougall escolheu o termo dependência da droga (addiction em inglês), ao invés de seu equivalente em francês, toxicomania (toxicomanie), por aquele ser mais expressivo do ponto de vista etimológico, destacando que addiction leva ao estado de escravo – portanto à luta desigual do indivíduo com uma parte de si mesmo – enquanto ao seu ver a toxicomania indicaria prioritariamente o desejo de se envenenar (MCDOUGALL, 1989, p. 53), pois toxicomanie significa literalmente “um desejo louco por veneno” (Id., 1997, op. cit., p. 200).
Para ela, que está em busca de uma dimensão outra que não a toxicológica ou farmacológica da patologia adictiva, o termo adicção ilustra melhor o sentido dinâmico e fantasístico da procura ao objeto, assim como a dimensão econômica e compulsiva do ato adictivo (FINE, 2003, p. 186). Ou seja, privilegia a relação que se estabelece entre o sujeito e o objeto da adicção, com destaque na busca desenfreada envolvida na dinâmica desta relação. Vemos então que o resgate feito do termo dos tempos romanos pretende colocar em relevo a dimensão da fantasia envolvida na busca do objeto, para além de uma concretude de uma dependência por um “envenenamento” toxicológico.
McDougall salienta também a luta interna na qual o sujeito se vê mergulhado e que ilustraria a situação de escravidão, não somente ao outro externo, mas principalmente a um “outro” dentro de si, a uma alteridade interna. Ou seja, o que se evidencia na adicção é não somente uma relação de dependência a um objeto externo, mas um apontamento para um “outro” interno que também vigora nessa psicopatologia. Vale lembrar como a palavra adicção pode ser utilizada em referência à drogadicção, como na alusão da citada referência do verbete do Dicionário Aurélio, por exemplo.
Mas queremos precisar que, em nossa abordagem, a questão não se refere a uma dependência psíquica relacionada apenas a uma droga e às suas conseqüências físico-químicas. Queremos enfatizar como a relação com o objeto, com qualquer objeto, pode assumir um papel prevalente no psiquismo do sujeito adicto, e quando, a partir de então, esse objeto “é como uma droga, não podemos passar sem” (INGOLD, 1982, p. 52). É a sujeição ao objeto que ganha ênfase em nossa abordagem da adicção e, conseqüentemente, os aspectos envolvidos nessa relação. Entende-se, desta maneira, que o modo de relacionamento adictivo pode assumir muitas formas, visto que o objeto da adicção pode se referir a um objeto tóxico (álcool, drogas), a um objeto a-tóxico 31 (comida, jogo), a uma forma de relacionamento com uma determinada atividade, a um modo de relação com uma pessoa, etc., adotando, enfim, as mais variadas configurações.
Para ela, que está em busca de uma dimensão outra que não a toxicológica ou farmacológica da patologia adictiva, o termo adicção ilustra melhor o sentido dinâmico e fantasístico da procura ao objeto, assim como a dimensão econômica e compulsiva do ato adictivo (FINE, 2003, p. 186). Ou seja, privilegia a relação que se estabelece entre o sujeito e o objeto da adicção, com destaque na busca desenfreada envolvida na dinâmica desta relação. Vemos então que o resgate feito do termo dos tempos romanos pretende colocar em relevo a dimensão da fantasia envolvida na busca do objeto, para além de uma concretude de uma dependência por um “envenenamento” toxicológico.
McDougall salienta também a luta interna na qual o sujeito se vê mergulhado e que ilustraria a situação de escravidão, não somente ao outro externo, mas principalmente a um “outro” dentro de si, a uma alteridade interna. Ou seja, o que se evidencia na adicção é não somente uma relação de dependência a um objeto externo, mas um apontamento para um “outro” interno que também vigora nessa psicopatologia. Vale lembrar como a palavra adicção pode ser utilizada em referência à drogadicção, como na alusão da citada referência do verbete do Dicionário Aurélio, por exemplo.
Mas queremos precisar que, em nossa abordagem, a questão não se refere a uma dependência psíquica relacionada apenas a uma droga e às suas conseqüências físico-químicas. Queremos enfatizar como a relação com o objeto, com qualquer objeto, pode assumir um papel prevalente no psiquismo do sujeito adicto, e quando, a partir de então, esse objeto “é como uma droga, não podemos passar sem” (INGOLD, 1982, p. 52). É a sujeição ao objeto que ganha ênfase em nossa abordagem da adicção e, conseqüentemente, os aspectos envolvidos nessa relação. Entende-se, desta maneira, que o modo de relacionamento adictivo pode assumir muitas formas, visto que o objeto da adicção pode se referir a um objeto tóxico (álcool, drogas), a um objeto a-tóxico 31 (comida, jogo), a uma forma de relacionamento com uma determinada atividade, a um modo de relação com uma pessoa, etc., adotando, enfim, as mais variadas configurações.
A marca da adicção é a busca obrigatória pelo objeto, qualquer objeto, que designará nessa busca a repetição dos atos suscetíveis de provocar prazer, porém marcados pela dependência a um objeto material ou a uma situação buscada e consumida com avidez (PEDINIELLI, ROUAN & BERTAGNE, 1997).
Essa avidez, esse caráter compulsivo, aparece de forma violenta na adicção: trata-se de uma relação na qual existe uma escravidão de um sujeito a um objeto, que possui um caráter “imperativo”, obrigatório, que domina a relação e compele o sujeito a buscar incessantemente um mesmo objeto.
Esse caráter compulsivo explicita a dependência ao objeto, que deve ser sublinhada, já que É de um estado de dependência – real ou pressentida – que nasce a adicção, mas a dependência ao objeto da adicção está estreitamente ligada ao outro.
Desde o início é o outro, o objeto, que faz surgir este temor da dependência, esta forma particular de sofrimento na qual o outro aparece como impossível de dominar, rebelde a qualquer controle e como fonte de movimentos pulsionais internos que fazem vacilar a identidade (PEDINIELLI & ROUAN, 2000, p. 88.
A tradução é nossa). Essa dependência configura um quadro clínico onde a relação com esse objeto assume lugar de destaque e de prevalência na vida do sujeito, e esse é um aspecto fundamental na adicção.
Vemos também como a adicção se apresenta como uma tentativa de enfrentar o domínio do objeto, de reagir a essa “escravidão” ao outro ao qual fica submetido: a adicção não é um fenômeno bruto e unívoco, mas uma verdadeira montagem da qual cada elemento, cada movimento, introduz um novo equilíbrio às conseqüências potencialmente destrutivas.
Sua lógica se situa ao lado da restituição e da tentativa de se libertar de uma dominação.
Para tentarem evitar o assujeitamento ao Outro, para fugirem do insuportável da dependência psíquica, para tentarem se produzir como sujeitos, as vítimas da adicção têm recorrido paradoxalmente a um objeto ou a um ato que conduz de fato à sua destituição desta posição de sujeito, e os mergulham numa dependência – biológica, social, material e psíquica – indubitavelmente mais importante ainda (Id., ibid., p. 87.
A tradução é nossa.). A escravidão, a dependência, a submissão, a repetida e compulsiva busca ao objeto apresentam-se como os principais elementos no quadro da adicção.
Mas vamos destacar essa dimensão compulsiva, da ordem do agir, característica marcante na patologia da adicção e que se insere em um campo de estudos que vem merecendo dedicada atenção: o campo dos estados limites.
sábado, 29 de maio de 2010
Você é viciado em internet ? Ciência e Vida
SAIBA SE VOCÊ É VICIADO NA INTERNET
Cláudio Bandeira
Você é viciado em internet? Pois o Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática da PUC (SP) reuniu algumas características comuns aos pacientes com mania de navegar pela web. A lista foi organizada a partir da experiência no atendimento de casos desde 1995.
Preocupação
O viciado fica constantemente preocupado com a internet quando está off-line e mal consegue pensar em outra coisa.
Necessidade
O indivíduo tem a necessidade contínua e crescente de utilizar a internet como forma de obter a excitação desejada.
Irritabilidade
Quando tentam reduzir seu tempo na internet, o adicto apresenta reação irritada e grande dificuldade de aceitação.
Fuga
Utilização da internet como forma de fugir de problemas, ou de aliviar sentimentos de impotência, culpa, ansiedade ou depressão é o modo como o viciado se relaciona com ela.
Mentira
O viciado tem o hábito de mentir para familiares e pessoas próximas com o intuito de encobrir a extensão do seu envolvimento com as atividades on-line.
Prejuízos
Com o excesso de tempo na internet, o adicto compromete sua vida social e profissional, evitando compromissos off-line.
Lesões
O uso prolongado do computador causa problemas nas articulações motoras utilizadas na digitação, o que causa lesões por esforços repetitivos (LER).
Apatia
O viciado em internet tem falta de interesse em atividades que sejam realizadas fora da rede ou longe do mundo digital.
Sonho
Sensação de estar vivendo um sonho, durante um período prolongado na internet, é comum no dia-a-dia da pessoa com compulsão ao acesso.
Tempo
Tempo exagerado de conexão, aliado à má qualidade do uso da internet, é uma constante na vida do viciado. A forma da utilização da internet é o elemento determinante para definir se o indivíduo é viciado ou não.
Temas
Os temas abordados normalmente pelo indivíduo são relacionados, de forma direta ou indireta, com a própria internet.
Fonte: PUC, SP , Ciência e Vida
Cláudio Bandeira
Você é viciado em internet? Pois o Núcleo de Pesquisas em Psicologia e Informática da PUC (SP) reuniu algumas características comuns aos pacientes com mania de navegar pela web. A lista foi organizada a partir da experiência no atendimento de casos desde 1995.
Preocupação
O viciado fica constantemente preocupado com a internet quando está off-line e mal consegue pensar em outra coisa.
Necessidade
O indivíduo tem a necessidade contínua e crescente de utilizar a internet como forma de obter a excitação desejada.
Irritabilidade
Quando tentam reduzir seu tempo na internet, o adicto apresenta reação irritada e grande dificuldade de aceitação.
Fuga
Utilização da internet como forma de fugir de problemas, ou de aliviar sentimentos de impotência, culpa, ansiedade ou depressão é o modo como o viciado se relaciona com ela.
Mentira
O viciado tem o hábito de mentir para familiares e pessoas próximas com o intuito de encobrir a extensão do seu envolvimento com as atividades on-line.
Prejuízos
Com o excesso de tempo na internet, o adicto compromete sua vida social e profissional, evitando compromissos off-line.
Lesões
O uso prolongado do computador causa problemas nas articulações motoras utilizadas na digitação, o que causa lesões por esforços repetitivos (LER).
Apatia
O viciado em internet tem falta de interesse em atividades que sejam realizadas fora da rede ou longe do mundo digital.
Sonho
Sensação de estar vivendo um sonho, durante um período prolongado na internet, é comum no dia-a-dia da pessoa com compulsão ao acesso.
Tempo
Tempo exagerado de conexão, aliado à má qualidade do uso da internet, é uma constante na vida do viciado. A forma da utilização da internet é o elemento determinante para definir se o indivíduo é viciado ou não.
Temas
Os temas abordados normalmente pelo indivíduo são relacionados, de forma direta ou indireta, com a própria internet.
Fonte: PUC, SP , Ciência e Vida
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