domingo, 3 de fevereiro de 2013

E agora José?


É, companheiro, sei que foi, mais uma vez, em busca de uma aventura errante. Logo você, companheiro, ciente que a insanidade é cometer os mesmo erros esperando resultados diferentes? Que insistência burra, cair outra vez nessa armadilha!

E você é levado:  você se joga e vai... Quando vai, esquece que a volta é triste, mais triste que a partida. Ir e estar, é terrível; é um mundo diferente, que não é o seu, mas persiste no cometimento de erros!

Esqueceu que deve evitar a primeira dose, que deve evitar pessoas, lugares e hábitos, por auto-proteção, auto-defesa na sua recuperação que exige manutenção diária e permanente? Esqueceu que é um adicto, que aprendeu a viver um dia de cada vez, na base do só por hoje?

Esqueceu que entregou sua vida e suas vontades a um poder maior que você, o seu Poder Superior, e retoma dele as rédeas do seu rumo, em seu egocentrismo? 

Esqueceu que na drogadição você só vale o que tem? E quando não tem, você ainda está sob efeito e vai querer usar, entra numa louca compulsão e comete uma sucessão de besteiras, não é verdade?

E quando você vai obtendo alguma noção da realidade, já se passaram uns dias... tenta sair fora e ai, mais e mais, a sua triste estado e condição (humana) vai lhe chegando à mente. Você começa a pensar e raciocinar e a verificar o cometimento de tantos erros. Bate a depressão. Vem o desejo de voltar para casa, mas você se sente um lixo, está um caco! Fraco, mal alimentado, intoxicado...

Cansado, sem dormir e, ainda assim reluta. Pinta aquele quadro de sentir vergonha de si mesmo. De andar pelas quebradas com aquela sensação triste de que todos lhe observam com os olhos da comiseração e senso crítico. Serve de referência para muita gente, pois enxergam em você o que não devem ser. É deplorável!

Você quer voltar e não tem nada nos bolsos, ou nas mãos, é o próprio vazio. Um liso, leso e louco, arrependido, envergonhado, vivendo outros tipos de inquietações; apreensivo, com ansiedade e relutante, com medo de estabelecer contato com a família vai procrastinando o inevitável, por receio. E sua felicidade agora é triste!

Digo felicidade porque encontrou alguém que se identifica com você, que sente pena, mas resolve lhe dar a mão. Você sente que é um Dante no Inferno, tendo do lado, um miraculoso Virgílio, enviado de Beatriz. Quanta coisa lhe passa pela cabeça, numa retrospectiva das suas loucuras? 

Quer o aconchego de casa, mas só lhe restam as pernas para caminhar uma quilometragem grande de volta para casa. Que inferno!

O corpo lhe pesa tanto! está fraco e caminha sentindo o peso do esqueleto humano que lhe resta. Os pés lhe doem e tudo mais é dor. Você pensa em Deus e fica repetindo pedidos de ajuda, naquela angústia do "oh, meu Deus, me ajude"!

Quantas sensações lhe ocorrem e o medo volta, mas é um outro tipo de medo, o de saber que vai ter que voltar a enfrentar a família e o medo de voltar aos mesmos lugares, sozinho, para quitação de débitos insanos, contraídos com gente que vê em você o alvo ideal para obter lucro, para lhe arrancar dinheiro. Agora você se sente em uma sinuca, pois sabe que ninguém pode lhe substituir e o máximo que podem fazer é lhe ajudar, mas você já não merece ajuda, outro erro que codependentes cometem, vez que o mundo atual é boca de se foder, é barra pesada... Lá de onde saiu, existe uma cidade, contra você, caso não cumpra as obrigações contraídas. Você não quer mais se desfazer do que possui e vive o desespero de quem está em um beco sem saída, não é verdade?

Pede compreensão e ninguém quer lhe compreender, não é o que lhe ocorre? Tudo que disser e contar, em seu libelo de defesa, será visto como mais uma sucessão de mentiras de um manipulador. Você será isso, e, talvez por isso, pela inadequação de todos, muita gente se afunda. A inteligência não preside mais nada. Tudo é doença e as decisões são doentias, porque resultam de pensamentos doentios. Não há evolução para quem não aceita tantas verdades. Que situação! você  pensa consigo mesmo... São os efeitos colaterais do uso se manifestando, lentamente, na medida em que vai regressando ao mundo real. E agora o que vai fazer?

Pois é, meu companheiro, volte a seguir a programação. Ainda existe uma instabilidade emocional dentro de você. É verdade que em sua solidão, tudo parece loucura e não existe mais diálogo. Seu drama agora é viver o próprio monologo que trava consigo mesmo, com sua consciência e tudo é amargo no seu regresso. Co-dependentes lhe voltam as costas e, sorte sua, alguém lhe entenda e lhe estenda a mão. "Que merda", você repete, tanto quanto "o que foi que eu fiz?".

É tudo tão parecido, companheiro! Você sai do mundo do uso das,  para entrar noutro mundo, onde você é a droga, que não produz os mesmos efeitos da droga que utilizou. Está como quem tá numa encruzilhada, sem saber o rumo que irá tomar e percebe a cilada em que se encontra, não é mesmo, cara? Vai enfrentar muita resistência e incompreensão e, ai é que você descobre que, quando você mais precisa de amor e compreensão, tudo lhe falta.

Agora é você e as circunstâncias, nesse novo e tão velho mundo da outra ponta da insanidade, que não é apenas a sua, mais aquela que se soma a sua culpa e tantas coisas mais, que bem sabe como é que é. Os extremos se tocam. Isso lhe castiga quando lhe vem à cabeça a canção feita do poema de Carlos Drummond de Andrade: "E Agora Jose?"

Agora você é uma equação matemática: a equação dos seus problemas pode estar em você, como pode estar nas mãos dos seus co-dependentes.

Que seu Poder Superior lhe ajude, é o que lhe desejo, de coração. Deus é pai, não é padrasto. Você faz o "mea culpa", mas ninguém sabe que porra é um "mea culpa". Você está sereno? Claro que gostaria, mas nessas situações, as apreensões são maiores. Tudo é incerto e o que não pode fazer é cometer asneiras. Mantenha-se centrado e focado e si mesmo, é o que posso lhe dizer. Seja forte e mesmo que todos desistam, nunca desista de você, nem de viver. Ainda que tudo lhe pareça incerto e conspire contra!

Cair é próprio da doença, a recuperação é responsabilidade totalmente sua e, não seria preciso dizer, mas digo: sozinho ninguém consegue e, será, que tem alguém que compreende isso, no seio da família e que se exercite na prática?

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