sábado, 26 de fevereiro de 2011

Drogas, sem radicalismo

As posições extremadas, radicais, fruto da intolerância e incapacidade de lidar com determinadas questões, sobretudo àquelas que dizem respeito ao dependente químico, ao usuário em recuperação, devem ser evitadas e tratadas com equilibrio, bom senso, afinal, o dependente, usuário, ou recuperando, não pediram para serem portadores de qualquer doença, assim como qualquer outra pessoa não deseja para si doença alguma. Ninguém quer ser cardíaco, nem diabético, nem portador de outras moléstias. A adicção é uma doença que afeta o lar, que, antes de tudo, já se apresentava disfuncional, desestruturado, em maior, ou menor grau. Então, é preciso que se tenha noção que a adicção é uma doença reconhecida pela organiação mundial de Saúde (OMS) como tal.

Geralmente as pessoas não fazem um exame de consciência, são superficiais quando o problema envolve outra pessoa e a maneira de compreender cada caso, cada situação, infelizmente, descamba para posições conflitantes que geram ações extremadas por parte de familiares, educados que foram conforme visões anti-cientificas, pouco racionais, que foram incutidas pela falta de conhecimento que impregna, principalmente, diversos veículos de comunicação social, que acabam desinformando ao invés de informar, com a visão policialesca e notadamente repressiva e opressiva.

Um familiar não deseja ver seu parente, próximo, ou distante, morando debaixo de uma ponte, ou se jogando para antros de degradação. Mas, muitas vezes, não fazem outra coisa senão aprofundar o problema, ao invés de buscar solucionar, caindo no seio de posições radicais que só agravam o estado de saúde físoco-mental de um dependente, ou ex-dependente. Soluções extremadas, que não comportem uma orientação especializada, devem ser muito bem meditadas antes de serem adotadas. Existe, no mundo atual, inúmeras visões e informações a respeito de como tratar um usuário de drogas e como manter o padrão ideal de recuperação de um ex-usuário. 

Há inúmeros relatos de casos que retratam isolamento e indiferença de familiares para com o adicto, de intolerância do conjuge com o mesmo(a), que, de modo geral, acaba se afastando, sumindo, desaparecendo e renunciando ao juramento que fez de estar com o ser amado na saúde, ou na doença. Filhos, cheios de vaidades e preconceitos, abandonam e até agridem os pais; pais, sem boa formação, acabam fazendo o mesmo com os filhos. A família desequilibra-se quando mais necessita de equilibrio. 
O co dependente não quer mudar porque ignora que precisa mudar e se tratar e não aceita esta obviedade. O caminho do amor, do dialógo, da compreensão, do ajustamento familiar, da aceitação do outro como ele é, pode ajudar muito quem padece com o uso de drogas, mas, em geral, não é assim que acontece. É preciso ter em mente que, inferno por inferno, o usuário mal tratado e mal conduzido, acaba no inferno das drogas. Portanto, se pretende mesmo buscar ajudar alguém, busque mudar o que pode ser mudado. Temos que ter consciência de que nós podemos mudar a nós mesmos, mas dificilmente mudamos o próximo. Há que haver, no minimo, um ponto de equilibrio para o restabelecimento da saúde da família, dentro da família e fora dela. No mais, é sempre bom ler a oração da serenidade, afinal ela também serve aos que cercam os usuários de drogas e aqueles que se acham em estado permanente de recuperação. Comece a amar o seu próximo como se ele fosse você mesmo. Será que é possivel compreender, ao menos, a palavra de Cristo? Conhecer a si mesmo e amar ao próximo consoante o juízo cristão é fundamental. Tente outra vez!

A chave do sucesso

Enfrentamento

A chave do sucesso

Professor colaborador do Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp), o psiquiatra José Manoel Bertolote ocupou, durante 20 anos, o cargo de coordenador da equipe de transtornos mentais e neurológicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Genebra. Consultor da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD), pesquisador e especialista na prevenção e tratamento de usuários de drogas psicotrópicas, nesta entrevista ele fala sobre as reais chances de recuperação de dependentes de crack, avalia a importância da reinserção social e mostra porque é preciso mais que a desintoxicação para reduzir o índice de recaídas. “A desintoxicação, apenas, tem seu papel, no sentido de reduzir os danos a que o usuário está sujeito, mas é uma contribuição modesta”, avalia.

É possível abandonar a dependência de crack por conta própria, sem ajuda especializada?

Teoricamente, sim. Porém, isso depende de vários fatores, entre os quais o grau de dependência e o nível de apoio social e familiar que o dependente possui. O sucesso de qualquer tipo de tratamento para uma dependência química passa, em grande parte, pela vontade do usuário de se manter afastado da droga (abstinência). Sem isso, nenhuma proposta terapêutica funcionará. Entretanto, há que se considerar o fenômeno da comorbidade, ou seja, a coexistência no mesmo indivíduo de outros transtornos mentais (por exemplo, depressão, psicoses, dependências de álcool, transtornos graves de personalidade etc.) que, caso não sejam tratados concomitantemente, podem comprometer a recuperação Um diagnóstico adequado permitirá traçar uma abordagem terapêutica mais eficaz, que esteja ajustada às características do paciente.

É possível levar uma vida normal após o tratamento? O dependente pode freqüentar os mesmos locais que freqüentava antes e manter o mesmo círculo de amizades, por exemplo?

Sim. Se o "antes" se referir a antes do uso do crack, certamente. Entretanto, freqüentar os mesmos ambientes e manter contato com as mesmas pessoas com quem usava o crack inviabiliza a recuperação.

Como a família deve proceder antes, durante e ao término do tratamento? Como agir em situações sociais, como festas familiares?

A família deve estar ao lado do usuário, apoiando-o - sem se submeter a chantagens e tampouco submetê-lo a pressões indevidas e ameaças infundadas. A firmeza e coerência de atitudes dos familiares são essenciais. Mas não existe uma fórmula que se possa oferecer para um usuário de crack ou para a família. Tirar o indivíduo das companhias e do ambiente é uma solução, mas não a única. Se o dependente permanece em sua residência durante o tratamento dificilmente será possível afastar-se totalmente, pois vai precisar muito acompanhamento da família, muito monitoramento, o que nem sempre é possível.

O dependente em tratamento pode fazer uso moderado de álcool, em situações sociais?

Em princípio, sim, desde que não coexista também uma síndrome de dependência do álcool. Desde que ele não seja dependente de álcool, ele consegue tomar uma dose e parar por ali. Isso não leva necessariamente o indivíduo a usar crack. A questão é que grande parte dos usuários de crack é dependente ou usuário pesado de álcool

Um dependente de crack consegue se recuperar completamente da dependência? Quais são as chances reais de sucesso do tratamento?

A dependência envolve complexos mecanismos cerebrais, psicológicos e sociais. Com o tratamento adequado a cada caso, e em presença de uma real vontade de deixar de usar a droga, a recuperação é perfeitamente viável.

O que fazer quando o dependente não quer parar de usar a droga e não aceita ajuda?

Não se pode submeter ninguém a um tratamento involuntário, a menos que esteja intoxicado e representando uma ameaça e um risco para si mesmo e para os demais. Nestes casos pode-se conseguir uma ordem judicial de tratamento e, eventualmente, internação.

Qual a razão do alto índice de recaídas entre usuários de crack? Quais fatores ou situações levam o dependente em tratamento a recaídas, mesmo após a fase de desintoxicação?

Não há estudos suficientes que permitam estimar as taxas de recaída entre usuários de crack, em geral, nem por tipos específicos de tratamento. O que se sabe é que a ausência de um sistema sócio-sanitário articulado que responda às necessidades desses usuários  pode contribuir para baixas taxas de sucesso terapêutico. A desintoxicação, apenas, tem seu papel, no sentido de reduzir os danos a que está sujeito o usuário, mas é uma contribuição modesta. Um sólido sistema de apoio médico, psiquiátrico, social e psicológico é essencial para o sucesso de um programa terapêutico, de reabilitação e reinserção social.

Como avaliar os resultados de um tratamento? Como saber se o usuário está recuperado da dependência?

O resultado do tratamento do crack é baseado em dois critérios fundamentais: a abstinência da droga e o grau de reinserção social.

Qual é o segredo, a chave do sucesso para uma superação real?

A vontade de se afastar e permanecer afastado da droga, o apoio social (da família e dos amigos) e um bom sistema sócio-sanitário, que responda às reais necessidades do dependente.
Site do Governo do Brasil : Enfrentando o Crack

Redução de danos

Enfrentamento

Redução de danos

Nem sempre é possível alcançar, de imediato, a abstinência do uso da droga e muitas pessoas continuarão a usá-la, mesmo depois de um processo de tratamento. Nesse sentido, é preciso encontrar alternativas capazes de reduzir os prejuízos associados a este consumo.
Incentivar o dependente de crack a cuidar de si, sem que a condição para isso seja a interrupção total do uso da droga, é a estratégia central das ações de Redução de Danos à saúde do usuário. Ao reduzirem os problemas associados com o uso de drogas no âmbito social, econômico e de saúde, estas estratégias beneficiam o usuário, seus familiares e a própria comunidade. 
Segundo Tarcísio Andrade, psiquiatra e professor adjunto da Faculdade de Medicina da Bahia, as práticas de Redução de Danos são baseadas em princípios de pragmatismo e compreensão da diversidade. As ações são pragmáticas porque tratam como imprescindível a oferta de atendimento para todas as pessoas nos serviços de saúde, inclusive para aqueles que não querem ou não conseguem interromper o uso do crack. O esforço é pela preservação da vida. Do mesmo modo, as estratégias de redução de danos se caracterizam pela tolerância, pois evitam o julgamento moral sobre os comportamentos relacionados ao uso do crack e às práticas sexuais, assim como intervenções autoritárias e preconceituosas.
Oferecer estes serviços de abordagem, muitas vezes na própria rua e nos contextos de uso da droga, também pode evitar a exposição a outras situações de risco e aproximar o usuário das instituições de saúde, abrindo a possibilidade de que ele venha pedir ajuda quando necessário. Além disso, permite que o serviço de saúde possa acompanhá-lo de forma mais próxima. 
 

Iniciativas práticas

De acordo com o psiquiatra Marcelo Cruz, coordenador do Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas (Projad) e professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, as ações para redução dos riscos de contaminação por doenças entre usuários de drogas injetáveis e também durante a prática sexual marcaram o início das estratégias de Redução de Danos no País. Com o sucesso dessas ações, elas passaram a ser usadas também na prevenção de outras práticas de risco, tais como os problemas com drogas não injetáveis, como é o caso do crack nos dias de hoje. Ainda segundo o psiquiatra, a estratégia de redução de danos para usuários de crack prevê a distribuição de preservativos, a disponibilização de informações sobre os riscos de contaminação pelo compartilhamento de cachimbos e sobre os cuidados para a prática de sexo mais seguro. Assim, a atividade de abordagem dos usuários nos locais de uso da droga não é um fim em si, mas um serviço oferecido junto a muitos outros, com o objetivo geral de preservação da saúde.
Nesse processo de Redução Danos, ações preventivas, como a substituição de cachimbos improvisados por outros de melhor qualidade, evitam a contaminação do usuário por bactérias. "Oferecer cachimbos que não superaquecem ajuda a reduzir lesões bucais e infecções secundárias", afirma Francisco Inácio Bastos, psiquiatra e doutor em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Afastar o usuário dos locais de consumo e venda da droga também ajuda a minimizar os riscos. "É imprescindível recorrer à ajuda profissional para tentar diminuir a compulsão pelo uso da droga e para que o usuário tenha também outras formas de estímulo, seja com medicamentos ou através de outras ações", diz Bastos. Também é importante tentar regularizar a alimentação e o sono, o que reduz o risco de anemia e desnutrição e impede o agravamento de doenças físicas e mentais. “Todo comprometimento orgânico-nutricional é grave. Algumas pessoas, em decorrência do uso de substâncias psicoativas, deixam de se alimentar adequadamente. Particularmente na infância, isso impossibilita a absorção de vitaminas e pode causar danos ao sistema nervoso, às vezes irreversíveis”, afirma Antonio Nery Filho, professor e psiquiatra do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
 

Atenção psicossocial

Além das medidas práticas e paliativas, é importante valorizar e estimular a vivência das habilidades e potencialidades do usuário. "O usuário de crack é uma pessoa insegura que busca, através da droga, suprir esta angústia de pensar que não é capaz”, diz a psicóloga Raquel Barros, da ONG Lua Nova de Sorocaba (SP). Ajudar o dependente a reconstruir vínculos com a família e a sociedade também ajuda a diminuir os prejuízos do consumo do crack. “A droga só tem sentido na vida de um usuário a partir do momento em que ele não consegue estabelecer relações que o façam sentir-se como uma pessoa importante”, diz a psicóloga.

Enfrentamento, Onde procurar ajuda

Enfrentamento

Onde procurar ajuda

Além dos serviços oferecidos na rede pública de saúde, é possível contar com outros recursos disponíveis na comunidade, como os grupos de mútua ajuda - Narcóticos Anônimos (NA), Grupos Familiares e Grupos Familiares Nar-Anon do Brasil (Nar-Anon) -, assim como comunidades terapêuticas.
O sistema de busca do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid) permite acesso a instituições brasileiras que oferecem tratamento para dependentes de drogas como o crack. Pelo site, os interessados podem localizar a instituição mais próxima e utilizar filtros de busca por estados, cidades ou CEP.
O governo federal, por meio da SENAD, mantém ainda a central telefônica VivaVoz (0800 510 0015), que presta orientação e fornece informações por telefone sobre o uso indevido de drogas. O serviço é gratuito e aberto a toda população e os atendimentos são realizados por consultores capacitados e supervisionados por profissionais da área de saúde. No Disque Saúde (0800 61 1997), também é possível obter mais informações.

Drogas, O que não fazer

Enfrentamento

O que não fazer

Para prestar apoio a um dependente de crack, é fundamental saber a melhor forma de agir para incentivar a recuperação. Por excesso de zelo ou até mesmo por desinformação, muitos parentes e amigos podem adotar atitudes prejudiciais ao progresso de uma pessoa que tenta interromper o uso da droga - agir com truculência, por exemplo, é uma maneira inadequada de lidar com a situação.
Força de vontade e perseverança são essenciais para todos os envolvidos. “O apoio afetivo e social é fundamental. A família, no caso de uso de substâncias psicoativas, deve se livrar de preconceitos, reconhecer que as pessoas reagem de modos diferentes a diferentes substâncias e se colocar ao lado do paciente e não contra a droga, desconsiderando as circunstâncias sociais, pessoais e a própria substância consumida”, diz Antonio Nery Filho, professor e psiquiatra do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD), da Universidade Federal da Bahia.
Psicóloga da ONG Lua Nova de Sorocaba (SP), Raquel Barros tem a mesma opinião. “Para administrar as crises, a família deve saber ser firme e persistente nos limites, trazer para a realidade aquele usuário e com ele traçar planos buscando valorizá-lo, assim como a relação entre eles”, diz. “Os familiares precisam de suporte, mas eles devem ter na cabeça que quem usa a droga é o dependente, não eles”, ressalta Andrea Leite, assistente social do CETAD/UFBA e coordenadora do Consultório de Rua.
O afastamento e isolamento do usuário também prejudica o processo de recuperação. “Por mais que o familiar pense que o dependente não está nem aí para ele, é bom ficar junto. E esse apoio não deve vir só dos mais próximos, mas também fora de casa, com oportunidades institucionais, por exemplo. Às vezes a pessoa não vê grandes chances lá fora, como emprego, e foca ainda mais na droga“, completa Andrea Leite.
Apoiar um dependente de crack também requer ajuda de profissionais e ações que mostrem a ele que existe algo que possa lhe dar prazer tanto quanto a droga. “Fizemos uma ação com o futebol e, ao praticar o esporte, os dependentes tiveram uma amostra de outra coisa que podia dar prazer. Ninguém falou para pararem de usar a droga, eles que descobriram isso. Uns jogavam só dez minutos, depois vinte, trinta, e daí a coisa toda evoluía para eles”, diz Andrea.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

EXCELENTE INFORMAÇÃO

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Instituição Padre Haroldo oferece tratamento para mulheres

O número de mulheres que usam álcool e drogas aumenta a cada dia. Há poucos anos, uma em cada dez mulheres usava drogas. Atualmente, as pesquisas mostram que são três em cada dez.Neste contexto, a Instituição Pe. Haroldo recebe mulheres para tratamento.

Conhecendo uma mulher que precisa de ajuda, ligue para Dra Suely nos telefones (19) 3794-2501/ 3794-2500.


A Instituição Padre Haroldo
A Associação Promocional Oração e Trabalho (APOT) – Instituição Padre Haroldo, fundada há 32 ANOS, é uma entidade com certificado de fins filantrópicos, cuja missão é proporcionar ao ser humano oportunidades para viver com dignidade, livre dos transtornos decorrentes do uso e abuso das drogas lícitas e ilícitas, através da prevenção universal, seletiva e indicada.
No âmbito da prevenção universal, educação e informação estão a serviço da sociedade, alertando sobre os riscos da doença da dependência do álcool e outras drogas.
Cursos profissionalizantes para a comunidade carente, visando proporcionar oportunidades de trabalho digno aos jovens destas comunidades são as ações no aspecto seletivo.
E, na prevenção indicada, a instituição utiliza usa metodologia que é referencia internacional, trabalhando com os dependentes em regime de residência, numa proposta de mudança de comportamento diante de sua visão de mundo, proporcionando a eles a possibilidade de adquirir condutas que o ajudarão a enfrentar sua doença, mantendo-a sob controle e mudando seu estilo de vida, através da trilogia laborterapia, conscientização e espiritualidade.
Em 2006, a instituição foi reconhecida como uma das três melhores comunidades terapêuticas para recuperação de dependentes químicos do mundo. Padre Haroldo, seu idealizador e fundador, recebeu em Nova York o premio Harry Sholl Award durante a 23ª Conferência da Federação Mundial de Comunidades Terapêuticas.

A QUEM INTERESSAR POSSA

Seção Pergunte ao Especialista estreia hoje

A partir de hoje, a Dra.Alessandra Diehl, médica psiquiatra e diretora da UNIAD SBC, vai responder as perguntas dos internautas sobre dependências no site da revista Anônimos. Você pode enviar sua pergunta para o e-mail contato@revistaanonimos.com.br ou acessar o site http://www.revistaanonimos.com.br/. A especialista vai participar da seção até sexta-feira, 19/03. Aproveite a oportunidade!

Crédito: BLOG CODEPENDÊNCIA

O artigo é de março de 2010, salientamos!

sábado, 12 de fevereiro de 2011

SÓ O AMOR SALVA, relato de um recaído

Tem momentos na vida que desejamos escrever e as palavras parecem fugir e ficamos a expressar o nosso pensamento de modo que nos parece inadequado. Ainda assim decidi desabafar por escrito, neste blogger, Só Por Hoje.

Há momentos em nossas vidas que nos desconhecemos, nem sequer nos reconhecemos. Ontem fui me ver no espelho. Estava cabeludo e com a barba em péssimo estado, de tal  forma, que o meu aspecto indicava abandono. Isso é fruto de um desprezo total pelo próprio ser, uma perda da auto estima que não consigo entender muito como isso me ocorre e me deixa relapso ao ponto de me largar, me abandonar, de me permitir viver ao léu da sorte. Não, não quero isso, mas é assim que fico até que vem o momento da reação e da busca por melhorias em meu estado de alma.

Há momentos em que negamos tudo o quanto pensamos, fomos e somos. Perdemos o referencial, perdidos, nem passado,  presente e sem futuro, em total desorganização mental. Não somos nada...É o que sinto, até que me chega o momento de reagir.

Há momentos em que mudamos para melhor, ou para pior. Momentos em que buscamos nos proteger e momentos que nos perdemos por completo, até que a consciência nos faça despertar para o erro que estamos cometendo e nos chama de volta ao eixo. Ficamos aprumados, mas, este estado não é duradouro pois nos falta algo que não posso definir, por falta de entendimento. Talvez me faltem tantas coisas, por dentro e por fora.

Não tenho razão alguma de esconder que me perdi em algum momento da minha vida e não faz muito tempo. Sou, antes de tudo, um depressivo crônico. Isso é um fato relevante que pouca gente compreende e entender um ser que padece em função de uma outra doença, que é a depressão e que me leva  a sofrer milhares de juízos errôneos.

Mas vamos ao que interessa. Como iniciei este processo que não desejo a ninguém e não quero pra mim, embora me envolva de tal modo que não consigo me desprender totalmente ?


De franco defensor de inúmeros valores e princípios, lá um dia, submetido a uma crise conjugal, em que a esposa foi embora, para o interior, furtivamente e me deixou só. Fiquei abalado, e desconjuntado, talvez por estar  em uma faixa etária que não é mais nenhuma primavera. Vivo o outono da minha existência. É a vida que agora desce ladeira abaixo iniciando o processo da velhice.

Em meio a essa crise conjugal, só e esquecido,  ouvindo emissoras de televisão falando, repetidamente, contra drogas, enfatizando o mal que o crack causa ao ser humano, fui tomado por uma perturbação mental;  deprimido, desarrumado, desnorteado, sem ter com quem conversar, me veio um instinto destrutivo  tomar conta dos meus pensamentos. A propaganda funcionou de modo inverso.Veio a idéia pessimista do está-tudo-acabado e, em meio a isso tudo, ocorreu-me experimentar a droga mais perversa que alguém pode experimentar, ao menos no Brasil.

É algo muito estranho o que me ocorreu e não sei explicar tamanha insensatez e loucura.

Havia próximo de casa uma invasão, onde, sabia-se, usava-se e vendia-se crack.  Confuso  e  em meio a este estado mental debilitador, com a voz de quem fala pra dentro, cheio de timidez, busquei ir a tal invasão para conhecer a tal droga. Uma pessoa conhecida, que fazia uso da mesma, foi compra-la. Não sabia sequer como era.  Feito a compra ele me indicou como alternativa, para fumar, um barraco de um conhecido dele. Fomos para o local. Ele  me deu a droga, mas eu não sabia o que fazer e disse ao mesmo. Então ele disse: isso é fácil, vou lhe ensinar ! Ensinou. Entretanto, usava e achava que a mesma não estava fazendo efeito. Não sabia usar a droga. Na verdade, para minha felicidade, nunca soube mesmo usar a droga. Como achava que não estava fazendo efeito e nada sentia de anormal, pedia que comprasse mais. Comprava e era - para mim - jogar dinheiro fora.

Depois, voltando para casa, me achei tão incapaz que nem mesmo a droga de uma droga eu sabia usar. Voltei à invasão dia seguinte. Dessa vez fui ao sujeito que vendia. Um pobre coitado. Fodido. Um miserável que vendia a merda, para sobreviver com uma mulher e filhos. Desolador o quadro. Comprei e fui ao segundo estágio e nada funcionou direito. Fui repetindo, enquanto jogava dinheiro fora e,  outras pessoas vinham se apresentando para ver e pedir um pouco da droga., que, submetido a uma pressão destes usuários, não tem quem não ceda, principalmente por me achar indefeso e em local estranho.

Fui usando e, não me dava conta de que estava sendo furtado. Tanto na droga, quanto no dinheiro posto no bolso, fácil de, com apenas dois dedos, me retirarem alguns trocados.

A droga, nos incautos, como eu, nos inofensivos, julgados como otários, face a boa índole e  capacidade de tolerar o intolerável, pela boa educação e por ser de outro nível social, ao usar, ficava desatento, sem noção exata de onde deixava a própria droga, que tem como efeito imediato a perda da memória recente, que se apaga. Neste quadro, confuso, os malandros tiravam proveito. Terminamos sempre como otários  explorados, pois não vamos nos tornar violentos, nem nos nivelarmos por baixo. Apenas registramos o fato e fazemos de conta que nada aconteceu.É comum policiais utilizarem a droga e, usando da autoridade conferida, subtraem tudo de um usuário. Apresentam-se como tal, se é, ou não é, é outra conversa. O usuário é vítima de muitas armações e este detalhe deve ser observado pelas diversas autoridades e profissionais qualificados a lidar com a questão da dependência química.

Eis que cheguei ao estágio de sentir algo diferente dentro de mim. Vergonha e medo, até chegar a um estado de paranóia e idéias persecutórias, características do que via e ouvia na TV; um quadro meio esquizóide. Nesse aspecto, a maioria dos usuários sente-se desta maneira, cheios de medos, fundados, ou infundados, enquanto outros nem parece que usam e ficam extremamente tranqüilos.

Neste processo é que percebemos que o medo, nada mais é que o medo de morrer, de ser preso, de sofrer algum tipo de agressão e/ou retaliação e, até mesmo ser assaltado e traído, vitimado por qualquer armação.

Nesse momento é que o sujeito descobre que dentro de si o instinto da vida permanece vivo, e se revela lutando contra a morte e o ser humano sente necessidade de estar vivo, de sair daquele inferno e ai vem o medo de ser abordado pela polícia, ou de ser assaltado por bandidos. Na maioria dos casos tudo é ilusório.

Foi assim, em um momento de abandono e solidão, que iniciei a negação de tudo quanto fui, e sou  pois não perdi meus valores, nem o caráter, nem a boa índole, nem nada, salvo dinheiro e outros pertences. Mas, a droga é perversa e, muitas vezes parece ter algo em comum com a escopolamina, em grau diminutivo.  Ficamos sujeitos a obedecer certos tipos de sugestões e comandos. Ela, o crack, muda as pessoas. Leva o sujeito a negação do próprio ser e pode sujeita-lo às circunstâncias em que se acha envolvido., preservada a essência da boa formação. Mas a droga é diabólica !

Mas é preciso que se compreenda que o meio é um universo complexo onde nem todos são iguais, salvo quanto ao uso da droga.As pessoas se misturam, sem outro envolvimento senão o uso da droga em si.

Nessa minha experimentação também observava que havia, psicológicamente, uma fraqueza mental e espiritual em todo este processo que me conduziu ao crack e que facilita muito o processo da dependência.


O consumo aumentou e as finanças caíram, enquanto eu decaía. Quando a mulher voltou eu já estava habituado a consumir a droga. Quando não tinha dinheiro oferecia algo em troca, decompondo-me e me humilhando. Quando passava o efeito me recompunha e me contestava, vinha o arrependimento atroz, mas ineficaz. Prometia a mim mesmo não mais cair na repetição do que eu, conscientemente, em estado sóbrio, considerava um erro e, em estado sóbrio jamais faria. A mulher, portanto,  voltou. Ao ficar sabendo deu para me investigar e iniciou um outro processo de crise. Metia-se nos mesmos ambientes que ia, para fazer uso, degradando-se, também. É um processo louco em que o codependente parece ter enlouquecido e perdido a noção do que está fazendo. Cria uma rede de informantes de onde colhe verdades e mentiras.

Meu processo de dependência dela, inexplicavelmente transferiu-se para a droga. Dependente, acabei por criar uma codependente, sem saber e, dai, nasceu um tipo de relação muito diferente, onde a codependente, em meu quadro, não tinha sossego. Começou uma fase horrível de convivência, e, a cada briga no lar, era lançado, cada vez mais, nos antros de proliferação de uso e venda. Minha vontade não era mais a minha vontade. O lar vira outro inferno. Havia dentro de mim um desgosto que só se aprofundou. Era como se dentro de mim estivessem em luta a vida contra a morte e, ao mesmo tempo a desarmonia do lar, como fator complicador. O que mais se deseja nestas horas não é briga, mas carinho, amor e atenção. Inferno por inferno, o sujeito vai para as ruas. Um codependente não sabe como agir, torna-se violento e autoritário, quer trancafiar a pessoa e perde completamente a razão. Sai pelas ruas, desgovernada, sem senso de orientação e comedimento.

Sem saber me misturei com pessoas (para usar) cujos comportamentos e hábitos , nas ruas, desconhecia. Infelizmente isso acontece por falta de lugares adequados a outros tipos de usuário. E esse problema se agrava e as inteligências superiores deveriam meditar e refletir sobre esta questão, que é um novo problema. Tem muita gente de classe média e classe alta, entrando no vício e, queira, ou não, acabam se misturando com gente que sequer conhece. Nesses antros fui explorado e o processo de dependência nos deixa cego. Acrescento aos senhores pais que muitas mulheres e rapazes estão se envolvendo e a mistura pode não resultar em coisas muito boas, como, no caso da mulher, por livre e expontânea vontade, entregar o corpo para obter a droga. Não é uma regra, mas uma exceção que só aumenta em graus de proporção. Não vejo sinais de maus tratos, pelo contrário. Mas o uso da droga permite a mulher torne-se permissiva devido a própria vulnerabilidade em que se acha. O diabo não é tão feio quanto parece e já ouvi conselhos, bons, de pessoas que vendem e que sentem pena de mim e, até, recusam me vender a droga. Por mais incrível que possa parecer isto é uma realidade e eles fazem o mesmo com garotas que fogem ao padrão habitual do usuário comum. Não abusam delas. Eles são como comerciantes. Claro que isso não deve ser observado como regra. Mas a maioria vende para o auto-sustento. Há, ai, um grave componente de desajuste social que as autoridades governamentais precisam avaliar, que só contribui para alavancar a proliferação de "vendedores", que buscam sobreviver. O olhar humano é necessário, tanto do lado de quem vende, quanto do lado de quem reprime. Há, ai, no meio de tudo, uma questão social grave a ser equacionada. Falar dessa maneira pode desagradar autoridades policiais, mas é uma realidade. Por isso sempre invoco as inteligências superiores à confabulação sem elocubrações que não tragam soluções inteligentes. Lembro, ainda, que violência só gera violência. Também acrescento que ir a qualquer bocada é um ritual de medo. O usuário fica sempre entre a cruz e a espada. Isso não é bom.

Bem, havia momentos, em que, por conta própria, eu parava e deixava de usar e passava a me ocupar de outras coisas, mas sempre chegava um momento, não sei qual o elemento propulsor, que me tirava do rumo certo para recomeçar tudo outra vez. Assim fui evoluindo para um estágio de maior degradação.

Bem, vou poupar o leitor de certos detalhes, mas chegou o dia em que me rendi e pedi ajuda e fui imediatamente atendido. Fui internado  e o tratamento não era medicamentoso e, baseava-se no que podemos assistir no filme, estrelado por Sandra Bullock, "28 DIAS".  Fiquei 45 dias e sai após o carnaval. Levei meses limpo, até que um dia, algo desencadeou em mim  o processo de recaída. Ao sair da clínica o codependente passa a ser nocivo na superproteção e, até mesmo, inconveniente. Agravam o estado de quem se acha em recuperação.

Devo ressaltar que ao sairmos da Clínica especializada, temos que traçar metas a cumprir. Procurei cumprir as 4. Mas, por razões que não merecem exposição, acresço que só cumpri o período da "Quarentena", enquanto busquei ir a algumas reuniões de grupos. Mas, meus co-dependentes, não se cuidaram pois nunca se renderam a evidência de que portam uma doença que eles contrairam face a minha dependência. Por mais que um co-dependente, que não se cuida, ache que está bem com o seu dependente, ele não vai proceder de maneira adequada.

Enclausurar, instituir uma liberdade vigiada, viver remexendo nas coisas do dependente, manter o clima de descrédito e desconfiança e tantas coisas mais, não podem levar a bons caminhos, ou a bons resultados.

Amor e ódio não casam bem.

Quando ocorre a recaída a relação entre o dependente e o co-dependente mescla inúmeros sentimentos negativos com bem poucos sentimentos benignos. Daí em diante a relação torna-se de mal a pior. Vem a deteriorização. Ocorre o afastamento, cria-se um isolamento e o dependente passa a ouvir agressões de toda sorte, é estigmatizado e ninguém se põe no lugar do mesmo. Amor ao próximo deixa de existir. Novamente abandono, indiferença, isolamento e solidão, além do ódio e da  repressão injustificada, porquanto desinteligente.

A falta de conhecimento e informação é enorme nos co-dependentes que não se cuidam. Nasce um novo mundo de descrença, descrédito, desconfiança que beira à raiva e o ódio. Ódio muitas vezes com caracteristicas mortais, como o procedimento de um filho que sai armado para matar o próprio pai. São situações extremadas que envolve uma preocupação exacerbada do co-dependente com a própria vaidade e a própria reputação, que enxergam maculada pelo dependente. Dai nasce o ódio que não nasce do desejo de ver o dependente bem, na verdade.

O sentimento que passam, que transmitem, e que captei, é o pior possivel. Não é, no fundo, a nossa saúde e bem estar que está em jogo, mas a reputação alheia, a vaidade alheia, os desejos alheios, e se inicia um processo destrutivo da personalidade do dependente, enquanto o codependente também padece.


Em meu caso específico, creio que no fundo a cura está no amor. Mas, comigo esse amor não mais existe se é que um dia existiu. Para o dependente é um amor impossível e, se no coração de uma esposa havia realmente amor, só ela pode restaurar tudo o que se perdeu através do amor, de uma boa relação estabelecida através da verdade e do dialogo aberto, franco e absolutamente sincero, sem desprezo ou menosprezo, sem indiferença, com carinho e o cuidado provenientes de um companheirismo que nem toda parceira está disposta a ter e ser, no mundo atual.Além de buscar tratar-se, evidentemente, junto com seu dependente.

Ninguém quer sacrificio, embora nos primeiros tempos do amor se tenha jurado viver com o seu amado, na saúde, ou na doença. Mas, na hora da crise a primeira coisa que ocorre é a fuga.

Acresço, ainda, que não sendo bastante a falta de informação dos co-dependentes, ainda há o envolvimento de aderentes e de terceiras pessoas que passam a servir de conselheiros. Tudo isso, somado às  intromissões indevidadas e até impróprias, geram o agravamento do quadro do dependente. Se o co-dependente não tratado já é ruim, imagine terceiros e  aderentes se envolvendo na questão, com os péssimos e extremados conselhos. Não, não é por ai o processo em que o dependente vai se reencontrar.

Falo por mim e nem tudo está dito, pois este relato não é um livro, nem uma autobiografia. Devo infinitas reparações, inúmeros pedidos de desculpas e de perdão pelo meu mal procedimento, tudo fruto de um estado de insanidade desencadeado pela fraqueza mental, na minha apreciação.

Abstrai deste texto tudo quanto aprendi e o deixo do jeito que se encontra para que o leitor possa analisa-lo, com um olhar mais complacente, mais condescendente e, sobretudo, com os olhos de quem ama o próximo. Aos profissionais, ai está o meu relato sincero, passivel de crítica, mas, sobretudo, sincero e verdadeiro. Não sou uma equação matemática, não sou exato, sou humano.

Não pretendo recair, mas recaio e, com isto, elevo o grau de ódio e raiva que nutre muitos corações, seja no lar, seja na rua. Infelizmente, como diz uma canção, A HUMANIDADE É DESUMANA.

Para finalizar tem umas frases sugestivas, tipo, "Quando a gente ama, claro que a gente cuida" e, outra: SÓ O AMOR CONSTRÓI.

Quando leio em algum canto escrito: SÓ JESUS SALVA, eu entendo a mensagem da seguinte forma: SÓ O AMOR SALVA.

Só por hoje me mantenho limpo.

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