PARA FAMILIARES DE ADICTOS
31/10/2003
O apoio da família na recuperação de dependentes químicos determina, positivamente ou não, a eficácia do tratamento. A opinião é da psicóloga Solange Dantas Ferrari, que coordena um Grupo de Apoio para estas pessoas e seus parentes há seis anos. A psicóloga conta que o preconceito da própria família do dependente agrava o problema. "Muitos têm vergonha de admitir que possuem um dependente químico em casa e por isso se afastam", diz. Segundo ela, o viciado em drogas, álcool e o depressivo dependem da ajuda dos mais próximos para se sentirem vinculados e com vontade de se recuperar.
Com a objetivo de orientar a família dos dependentes, neste sentido, Solange e Arlete Jacon, que também é psicóloga, reúnem todas as terças-feiras cerca de 40 familiares que trocam experiências sobre os problemas domésticos causados pelos vícios e as formas de como enfrentá-los. "Nestes casos, a família se torna co-dependente, ou seja, ela adoece junto com o viciado e também deve receber tratamento", disse. Nas reuniões, com o acompanhamento das psicólogas e através de depoimentos, as famílias se conhecem e compartilham soluções.
Com o auxílio da família, sete em cada dez dependentes - ou em 70% dos casos - conseguem controlar o vício. "A quimiodependência é uma doença que não tem cura, mas sim controle. A eficácia do tratamento não depende de medicação, mas sim do desejo de recuperação atrelado ao apoio dos mais próximos", frisou Solange.
A psicóloga também disse que o acesso às drogas tem começado mais cedo e atingido também as mulheres. Segundo ela, a maioria dos dependentes entra nesse "mundo" por volta dos 13 anos de idade através do álcool. "Chega uma hora que a bebida não faz mais efeito e o adolescente vai procurar substâncias cada vez mais fortes", disse. Para a especialista, uma família desestruturada também contribui com o agravamento do vício. "Os mais jovens, principalmente, vêem nas substâncias alucinógenas uma saída para os problemas do cotidiano familiar conturbado", ressaltou.
Conforme Solange, todos os dependentes químicos necessitam de ajuda. "O auxílio começa em casa e deve se estender em grupos de apoio e até tratamento em clínicas, se necessário". Com esse respaldo, o controle do vício é facilitado. "Já tivemos casos em que a pessoa estava no 'fundo do poço', mas que, com muita força de vontade e auxílio, conseguiu se livrar do problema", disse.
Ela contou que um dos casos mais marcantes foi o de um idoso de 69 anos, que mesmo com a idade avançada, lutou contra o álcool e conseguiu vencê-lo. "É muito gratificante quando ajudamos a trazer de volta a vida de um ser humano; mesmo que todos digam que não vale a pena o esforço, para nós vale, e muito", completou a psicóloga.
O Grupo de Apoio, aberto à população, atende todas as terças-feiras, das 19h30 às 21h30, na Rua Alferes Franco, 1241, no Centro.
Gazeta de Limeira 12/08/2003
Influência familiar no tratamento da dependência química
Silva, Macedo e Derntl
Os padrões de depressão e mania ou transtornos de humor, presentes nos dependentes químicos se estendem ao sistema familiar, estabelecendo condutas e comportamentos repetitivos que promovem o ciclo de dependência e que podem agravar a situação do dependente.
Esta é a hipótese básica que norteou a investigação relatada no artigo publicado pela revista Psicologia em Estudo em 2007. A pesquisa teve como objetivo compreender como os transtornos de humor do indivíduo dependente se manifestam no âmbito familiar e quais suas implicações na manutenção do ciclo da dependência.
A pesquisa apresentou um estudo de caso que enfocou uma família, residente em São Paulo, com um membro dependente de cocaína e crack. A coleta de dados deu-se em uma instituição especializada em tratamento de dependência química onde foram efetuadas 10 sessões de psicoterapia familiar. A família era constituída pelo dependente, sua esposa, sua mãe e sua irmã.
Os resultados deste estudo foram baseados nos dados que emergiram das sessões e nas categorias descritivas de padrões de humor criadas por Stierlin, Weber, Schmidt e Simon em 1986, que trabalharam com famílias com transtornos de humor. Tais categorias tratam dos padrões de relação comunicacional, comportamentais e afetivos destes sistemas familiares.
Os autores concluíram que a terapia familiar funcionou como uma espécie de catalisador do tratamento; conscientizando os membros familiares da importância de sua participação ativa no processo terapêutico além de fortalecer e restabelecer os vínculos afetivos entre eles.
Os pesquisadores enfatizaram que este estudo propiciou uma maior compreensão da dinâmica do ciclo da dependência, por constatar que os padrões de transtornos de humor se estendem à família ao serem identificados como uma expressão do todo e não só ao dependente. Este dado facilita o trabalho do psicoterapeuta e possibilita que cada elemento do sistema familiar visualize as diferentes posições e responsabilidades assumidas por cada um.
Texto resumido pelo OBID a partir do original publicado pela Revista de Psicologia em Estudo, Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 12 (1): 61-70, 2007. ISSN 1413-7372. Editada pelo Departamento de Psicologia - Universidade Estadual de Maringá.
Fonte: OBID
O mundo não vai se acabar se você se tratar !
Nenhum comentário :
Postar um comentário
soporhoje10@gmail.com