Oxi pode matar 30% dos usuários em apenas um ano
"Uma droga mais devastadora do que o crack invade as ruas das cidades por todo Brasil.
O crack apareceu nos anos 80 nos Estados Unidos. Nós não tomamos nenhuma
medida preventiva. Sequer educamos as crianças. O que aconteceu? A
primeira cracolândia se estabeleceu em São Paulo e a droga se espalhou
pelo Brasil inteiro. As estimativas são de que existam 1,2 milhão de
usuários de crack pelo país. É uma epidemia. Agora surge o oxi. Uma
preparação mais bruta, mais barata da cocaína e ainda mais destruidora
do que o crack. É difícil prever o que vai acontecer? Nós vamos assistir
passivamente à disseminação do oxi pelo Brasil inteiro? Nós não vamos
fazer nada?
“O oxi é um tipo de crack adulterado. Fundamentalmente todos eles vêm da
pasta base de cocaína. É fundamentalmente você colocar nesta pasta base
ou querosene, ou gasolina ou cal. E você vai transformar de uma forma
muito tosca, com uma tecnologia muito tosca, um subproduto do crack,
mais adulterado, que tem as características de ser mais barato, mais
poderoso, e mais de fácil acesso para o usuário”, explica Ronaldo
Laranjeira, psiquiatra da Unifesp.
O oxi entrou no Brasil há sete anos pelas fronteiras que o Acre faz com a
Bolívia e o Peru. Ficou restrito ao norte do país até este ano, quando
se espalhou por diversos estados. A primeira apreensão de oxi na cidade
de São Paulo foi em março deste ano de 2011. É possível que o oxi já
existisse antes?
“Eu acredito firmemente nisso. É muito provável que esse produto já estivesse em circulação pelo menos naquela região da cracolândia há mais tempo”, acredita Wagner Giudice, diretor do Denarc.
“Eu acredito firmemente nisso. É muito provável que esse produto já estivesse em circulação pelo menos naquela região da cracolândia há mais tempo”, acredita Wagner Giudice, diretor do Denarc.
Quando você fuma o oxi, o querosene provoca náuseas, vômitos, tosse, sensação de sufocamento, tremores e até convulsões. Os vapores de cal irritam os olhos, provocam perda parcial da visão e cegueira. O oxi queima por onde passa. Boca, garganta, brônquios e pulmões ardem. Você pensa que está fumando cocaína, mas na verdade está se envenenando com querosene e cal.
“Quando ele vai ser queimado fica o resíduo da não queima de parte da querosene. A fumaça que sai é a fumaça que vai ser inalada. Querosene, cal. E nós temos o resíduo que sobra, uma espécie de uma graxa. O cheiro de combustível pela queima do querosene. A sobra é esse líquido oleoso, conhecida como oxi ou oxidado porque ele fica realmente oxidado”, explica um delegado.
“Eu acredito que o oxi pode alcançar muito rapidamente os consumidores de crack. O crack alcançou mais de 90% das cidades brasileiras por ser uma droga conhecida como barata. O oxi é mais barato do que o crack”, acredita Wagner Giudice, diretor do Denarc.
“Fizeram uma pesquisa de um ano com cerca de cem usuários e constataram que, em um ano, 30% desses usuários acabaram morrendo em razão dos efeitos dessa droga lá no Acre. Hoje, o oxi chega em uma zona onde o pessoal já está com graves problemas de saúde. A maioria dos que estão na Cracolândia sofre de AIDS, sofre de tuberculose, e, por incrível que pareça, sarna, em razão da promiscuidade que eles estão vivendo. Então o oxi entrando em um campo desses realmente vai causar mais malefícios”, alerta Reinaldo Corrêa, delegado do Denarc.
Marcos Antônio é um usuário de oxi e crack em tratamento. A dependência o fez roubar objetos da família e morar na Cracolândia.
“Passei três noites lá. Eu vi crianças de 7 anos de idade na fissura, ameaçando pessoas para dar um trago. Por ele ser muito barato, está entrando como uma avalanche no mercado. Lá na Cracolândia você compra trago por R$ 0,50. A gente se sente uma escória, a gente se sente um verme ali”, conta Marcos. “Vi que eu precisava me internar no momento em que vi meus filhos abandonados. Tenho duas filhas adolescentes.”
Uma droga devastadora como o oxi destruirá um número incalculável de usuários e famílias. Dependência química não é caso de polícia. É doença que precisa ser enfrentada com medidas preventivas e assistência médica para tratamento dos dependentes. Estamos diante de uma tragédia anunciada: o oxi. Ainda dá tempo para reagir. "
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