segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Amando um dependente Químico

Um rapaz, com seus trinta e poucos anos, branco, de estatura baixa, de família abastada, deixou o emprego e buscou internar-se, voluntariamente, em uma "clínica". Fomos convivendo e, na clausura do quarto, batíamos papo sobre nossas vidas, nossas angústias, sobre a saudade que tínhamos de nós mesmos, da saudade dos nossos familiares quase todos ausentes. Éramos três no mesmo quarto. Um era advogado que nos provocava momentos de descontração devido às confusões que fazia, fruto de falhas na memória. Havia em todos nós um sentimento profundo de dor e desgosto. Conjecturávamos sobre nossas famílias. Sentíamos muito com o esquecimento e o desprezo com que éramos tratados. A ausência de visitas e de ligações telefônicas. Era lugar comum o pensamento de que fomos - eu mais o advogado - postos naquele lugar, supostamente para sermos "tratados" e o tratamento consistia no come-e-dorme. Tivemos momentos de rara felicidade, quando recebíamos alguma ligação telefônica. Dois filhos me ligavam e me davam alento. Mandaram livros e foram estes livros que me deram suporte para resistir aquele sistema prisional. 

O sentimentos dos três - e da coletividade - era o de estarmos sepultados vivos, enquanto oferecíamos paz, sossego e tranquilidade a nossas respectivas famílias. Cada caso era um caso, mas havia essa convergência de pensamento. Éramos incômodos e, assim, as famílias se viam livres de problemas e preocupações. Salvo F., eu e R., fomos apanhados de surpresa e lançados em uma instituição, queiram, ou não queiram, carcerária. Achavamos impressionante  o elevado grau de "inteligência" e de civilidade, que denotava uma mentalidade familiar, surpreendentemente triste. 

A realidade de F. era a de que não tinha mais para onde  ir. Era um rejeitado pela desinteligência familiar, vivendo a crise de confiabilidade, ou, quem sabe, pelo que chamam de intolerância de codependentes que ignoram tal condição. Rapaz de família rica submetido à triste condição de maior abandonado. Minha situação era a de buscar minha recuperação, mas sabia que tantas coisas aconteciam lá fora, que por serem muito recentes, não merecem comentários. Sei que incomodaria e não é esse meu propósito. Minha intenção é abrir os olhos dos "cegos"que não aceitam enxergar os próprios erros, os exageros, os abusos e a falta de inteligência para solucionar problemas equacionáveis. A vida está cheia de bons exemplos de pessoas que conseguiram se recuperar, dos mais pobres, aos mais ricos, incluindo os que alcançaram a fama. Nada está perdido. Mas não vou chover no molhado. O tempo haverá de mostrar que não há mal que sempre dure, encurtando o dito popular. Minha perspectiva era a de reconquistar a família e me desvencilhar de tudo que pudesse me levar pelas veredas da morte e eu rezava muito. Devorava livros, como "Casagrande e seus demônios". Lia e lia porque fora disso era o eterno come-e-dorme. 

Não havia monitores para sacanear e, verdade seja dita, podíamos falar todas as verdades que desejássemos a respeito de tudo. Não fui mal tratado. Tanta a família, quanto eu, desembolsamos uma grana. Tinha que ter, pelo menos o meu cigarro, vez por outra uma coca-cola e algumas coisas mais, como remédios e até duas pizzas. Eu lutei e tinha planos de novas fugas surpreendentes  e que seriam definitivas até um certo tempo. Não aceitava viver naquela cripta que o quarto simbolizava. Ali eu era apenas um morto-vivo, dentro de um cemitério de humanos com sérios problemas de natureza psíquica, física e espiritual. Meu direito à liberdade, para mim, é mais sagrado que o direito de defesa. Enquanto isso meditava, rezava, pedia a Deus minha liberdade, que aconteceu. 

R. ficou só. F. saiu antes de mim. Soube que havia arrumado um emprego ruim, mas não havia outro meio, salvo esperar que a mãe chegasse da Suiça, onde residia, e o levasse com ela, para o exterior.  A possibilidade de R. sair - para mim - era remota.  Sinto o sofrimento dele, aquele aperto no coração, o sofrimento do castigo imposto, como uma punição. A família sabe que ali não há tratamento algum. 

Vou finalizando, pois é tarde. E, tudo quanto fui escrevendo neste texto tem a ver com o que  eu queria dizer sobre codependência e que foi maravilhosamente escrito no blog AMANDO UM DEPENDENTE QUÍMICO. Gostaria de publicar parte do texto deste blog para ver se familiares, de qualquer dependente, consegue ler e compreender alguma coisa. Eu mudei e gostaria que todos ao meu redor mudassem e eu mudei para melhor.

Estou cansado e já passei da hora de dormir. Espero que me compreendam e busque, cada qual, suas respectivas melhoras. Qualquer um pode vencer o vício, então não custa nada estender uma mão para ajudar quem sofre nas garras da adicção. 



Nenhum comentário :

Postar um comentário

soporhoje10@gmail.com

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...